No dia 11 de maio, o Partido Social Democrata de Ílhavo organizou mais uma videoconferência integrada no ciclo “Novos Desafios Após o Estado de Emergência”, desta vez, dedicada à União Europeia. O orador convidado foi o eurodeputado social-democrata Paulo Rangel, numa sessão, através da plataforma Zoom, na qual participaram cerca de 50 pessoas. Em simultâneo, a conferência foi transmitida, através da página do PSD Ílhavo no Facebook, para um maior auditório.

No entender de Paulo Rangel, os cidadãos europeus estão a viver “a maior crise das suas vidas”. A crise de saúde está a criar uma crise económica, que pode rapidamente evoluir para uma crise financeira que, por sua vez, pode levar a uma crise política e de identidade na União Europeia. Tudo isto faz da atual conjuntura um “momento-chave” para o futuro da Europa.

O eurodeputado afirma que “os países do norte, capitaneados pela Holanda, mas seguidos pela Áustria, Finlândia, Dinamarca, Suécia e, em parte, pela Alemanha, só querem [instrumentos de financiamento aos países mais afetados pela pandemia sob a forma de] empréstimos, não querem dinheiro dado em subvenções”. Isto gera, como explica Rangel, “uma querela política”, em que se nota uma divisão clara “entre os países do norte e do sul [da Europa], entre os Estados que dão dinheiro e os que o querem receber, entre uns que não querem onerar os seus contribuintes e outros que não querem a aumentar a sua dívida”. Ora, Rangel teme que, se a União Europeia não for capaz de dar resposta aos Estados mais necessitados, em países como a Itália possa haver um avanço da direita-radical eurocética. E “se se dá um ‘Italexit’ [saída de Itália da União Europeia], posso garantir que será o fim da União Europeia”. Todavia,  também pode acontecer o contrário, explica: “se a UE dá um apoio efetivo e maciço ao problema, em países como a Holanda as forças populistas podem chegar ao poder e fechar [esses países] à comunidade. A União Europeia está numa crise existencial.”

“É preciso que os líderes europeus estejam à altura [dos desafios do momento]”, diz Rangel. Num exercício de reflexão, o eurodeputado convidou os participantes naquela videoconferência a pensarem na história do continente e dos povos europeus. “Corremos o risco de ver a Europa voltar ao seu normal, isto é, a um clima de guerras e fronteiras fechadas. Estes 75 anos de (quase) paz têm sido de exceção na história do continente europeu”. “Não há nenhuma razão para umas gerações as terem [às guerras] e outras não, quando a natureza humana é a mesma”, reforça.  

No seguimento do debate, e em resposta a uma questão de Hugo Coelho, presidente do PSD Ílhavo, sobre as expectativas quanto à recuperação económica, Rangel assumiu-me “menos otimista que a Comissão Europeia”. “[A Comissão] prevê uma queda abrupta e uma recuperação rápida. Eu creio que a recuperação não será assim tão rápida”, considerando quedas nos produtos superiores à da crise do subprime e a inexistência de uma vacina no horizonte

Também Fernando Caçoilo interveio nesta sessão, assumindo um papel de “advogado do diabo” de forma a promover a discussão. O presidente da Câmara Municipal de Ílhavo compreende as posições de alguns dos estados que mais contribuem para a União – “Os holandeses andam há 40 anos a contribuir para o equilíbrio dos outros países”. Caçoilo recordou ainda a importância da integração portuguesa num quadro comunitário europeu e as oportunidades de desenvolvimento que isso tem permitido. “Se não fosse a UE qual seria a qualidade dos nossos serviços, mobilidade, empresas, tecido industrial?”.

Da mesma forma, André Guimarães, presidente da JSD Ílhavo, reconhece os “méritos e contributos da EU para desenvolvimento da nossa terra” e diz que “[os portugueses] devem ser orgulhosamente europeus”. Reconhecendo que, na atual situação, podem emergir fações populistas, André Guimarães incentiva os órgãos comunitários a um maior investimento na comunicação. 

“[Na Europa,] estamos em condições para entrar numa nova era económica”, garantiu Rangel, em resposta ao economista e gestor Jaime Quesado. Uma nova era assente em duas prioridades: uma posição “ambientalmente exemplar” e um “investimento na digitalização e na tecnologia”. 

Rangel defende uma UE a investir nela própria, aproveitando “a crise como oportunidade de a Europa retomar a dianteira”. “[A UE] tem condições para o produzir um plano Marshall próprio”, termina.

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