Entrevistámos Freddy Strings, Freddy para os amigos, que nos contou um pouco sobre o seu início de carreira, o que tem feito e o que tem em mente para fazer. Um caminho de muita persistência e dedicação
Como começaste na música?
Desde que me conheço que gosto de cantar, muito incentivado pelas cantigas que ouvia na infância, cantadas pela minha mãe, pela minha avó, pelas educadoras do infantário, pelos genéricos dos meus desenhos animados favoritos. Lembro-me de, com cerca de 4 anos, passar horas a fio a ouvir os álbuns da minha mãe, que escutava atentamente e ia tentando reproduzir, numa altura em que as palavras nada mais eram do que sons sem idioma ou significado, que eu entendesse pelo menos. Desde a infância, pela adolescência fora, sempre gostei de trautear e cantar aquilo que estivesse a ouvir.
Em 2008, quando ingressei no ensino superior, na cidade da Guarda, conheci a Copituna d’Oppidana – Tuna Académica da Guarda, grupo ao qual me juntei no ano seguinte e onde comecei a dar os primeiros passos com a capa ao ombro e guitarra ao peito.
E a partir daí, qual foi a principal motivação para prosseguires uma carreira na música?
A partilha, a sensação de transmitir algo aos demais, sentir o seu efeito. Posso nem sempre ter visto as coisas desta forma, pois julgo que no início de tudo tinha ainda um pensamento pouco definido acerca do que procurava alcançar. O caminho tem vindo a fazer-se e a cada passo a motivação também evolui.
Ao longo do teu percurso, quais foram os artistas que mais te influenciaram?
Desde pequeno sempre fui mais esquisito com a comida do que com a música. Com a minha mãe ouvia músicas típicas de São Tomé e Príncipe, de grupos como África Negra e Sangazuza, entre outros. Quando ainda não podia escolher o que ouvia, tinha à mão CD’s e vinis ou cassetes de Júlio Iglesias, Michael Jackson, Tracy Chapman, Mariah Carey, Michael Bolton. Lembro-me de ter uma cassete de Iran Costa que também tocava na aparelhagem. Desta altura, os que sublinho são Tracy Chapman, Michael Jackson e Mariah Carey, que em 1992 gravou um Unplugged incrível para a MTV, cujo álbum ainda tenho, ouço e canto. Já a minha adolescência foi virada em grande parte para o Hip Hop, R’n’B, Rock e muita House Music nas discotecas. Mais tarde na altura da universidade, passei os ouvidos com maior atenção pela música reggae, músicas do mundo e grupos alternativos, bem como a música ligeira vigente de Deolinda, António Zambujo, Oquestrada, entre outros. A música brasileira foi sempre estando presente por força da proximidade da cultura, mas tomou maior expressão em mim nos últimos dez anos. Passei a escutar mais álbuns do Brasil, acabaram por me influenciar, são parte de mim de alguma forma naquilo que faço e sou grato a todos pela obra que deixam e vão transmitindo.
Quando foi a primeira vez que atuaste e quando foi a primeira vez que atuaste em Ílhavo?
Os primeiros palcos foram pisados ainda na altura do ensino secundário, com algumas peças cómicas, canções e também como apresentador em saraus, desfiles de moda e Escolíadas. Na música o primeiro palco foi o Teatro Gil Vicente em Coimbra, num festival de tunas.
Em Ílhavo, a primeira casa a receber-me como “Freddy Strings” foi o Expresso do Oriente. Foi, durante um largo período, a única casa que me abriu portas. Mais tarde, desbloquearam-se outras relações na cidade.
Entretanto também te podemos ver frequentemente a animar as ruas. Como é essa experiência?
Lancei-me a esse desafio entre 2013 e 2014. Já tocava em palcos há alguns anos e decidi experimentar a rua. A primeira vez que o fiz foi na Praia da Barra, na entrada do molho sul. Terá sido até hoje o momento que mais me fez sentir aquele nervoso característico de uma subida a palco e aquele, por razões muito diferentes, era mais exigente. Tornou-se algo viciante, pôs-me à prova em muitos sentidos, trouxe-me momentos que não hei-de esquecer, sinto que muitas vezes fui capaz de colorir o dia de alguém e é algo que me trouxe e continua a trazer um mar de oportunidades. A maior parte das vezes faço as minhas apresentações de rua na zona da Beira-Mar, em Aveiro, costumo ir ao Porto, já o fiz no Algarve, na Madeira e em Leeds, no Reino Unido. Penso que a arte de um modo geral pode e deve mostrar-se desta forma, nunca em detrimento das convencionais, mas há muito pra dar e receber quando se atua nas ruas. É bom fazer alguém parar por um momento, é bom colocar sorrisos na cara de alguém, é bom fazer alguém dançar e cantar. “Sending some love to the streets” – “enviar algum amor para as ruas” é o que tento fazer e não quero de todo parar.
Quando foi o teu último concerto em Ílhavo?
O último concerto que tive em Ílhavo, foi no ciclo de concertos “GPS Marolas” 2020, do Município de Ílhavo, que se realizou no Cais Criativo da Costa Nova. Atuei com o projeto “Freddy Strings and The GrooveFellas”, a minha banda de originais, formada em finais de 2017.
Atualmente, quais são os projetos que tens em mãos?
“Freddy Strings” surgiu em 2012, como projeto de covers acústico, com a finalidade de trabalhar em bares e restaurantes. Com o tempo e afirmação do projeto, comecei a trabalhar em casamentos, eventos de empresas, aniversários, etc. Este projeto mantém-se até hoje. Depois de ter escrito as primeiras canções originais, o passo seguinte foi juntar uma banda, que em 2017 tomou forma como “Freddy Strings and The GrooveFellas”, que é o projeto que melhor representa aquilo que busco na música. “Boa Nova” é um projeto de canções originais com o meu amigo de infância, Pedro Serrão. Neste projeto escrevemos canções que cantamos em português do Brasil, com influências da música popular brasileira, bossa nova e samba. Em “Joker and The Clowns”, banda de rock, é o projeto onde calo o “Freddy” para me focar apenas nas “Strings”, como um dos guitarristas do projeto.
Achas que podemos ter um EP ou álbum teu em breve? Pensas nesse assunto?
Sem conseguir precisar para quando é algo que tenho em mente e sinto esse momento cada vez mais perto. Tenho aguardado por uma espécie de maturação das canções de forma a não sentir que são lançadas de forma prematura. Sempre fui muito paciente no que toca a alcançar os objetivos e não se confunda isto com falta de ambição, apenas procuro alcançá-los de forma mais segura e sólida. Costumo metaforizar: se estiver a cozinhar um bolo e tirá-lo do forno antes do tempo é provável que quem prove não fique tão satisfeito e não me peça outra fatia. Se for preciso esperar para que saia no ponto, vai ficar mais saboroso e apetecível. Estou a tentar que isto aconteça.
Como artista, como viveste a pandemia?
Foi um golpe duro. A sazonalidade da vida na música é evidente. Para quem tem os seus rendimentos exclusivamente nessa fonte, que é o caso, a declaração do estado de emergência e consequente confinamento apagou do calendário os trabalhos que no mês de março começam a surgir e que vão aumentando durante a primavera e atingem o pico no verão, sendo esta a altura que melhor sustenta a atividade, seja em atuações de bares, casamentos, festivais e mesmo o “busking” (tocar nas ruas). Tudo se tornou muito incerto e não houve, na altura, maneira de prever como se iria solucionar a questão. Durante o confinamento fiz alguns vídeos em direto e gravações que me foram mantendo ativo, embora sem remuneração, mas foi um desafio importante para desenvolver as minhas aptidões e absorver novas influências. À medida que se foi dando o processo de desconfinamento, voltei a tocar nas ruas, permitiu-me voltar a sentir o público, partilhar boas energias, ganhar algum dinheiro e promover o meu trabalho. Isto deu frutos que tenho vindo a colher estes últimos meses com vários novos contactos para me apresentar ao público.
Achas que é difícil ser músico na nossa região?
É tudo uma questão de oportunidades. Como uma bola de neve nos desenhos animados, se ela rolar vai aumentando o tamanho e é assim que vejo o cenário. O importante é não parar, o ritmo de crescimento é que pode variar mediante as variantes, que têm a ver com a forma como chegas aos públicos, se agradas e consegues ser constante durante mais tempo. É uma maratona, a meu ver. Não é fácil, as dificuldades estão normalmente aliadas à frequência de concertos, à forma como conseguimos defender o nosso preço, à compra e manutenção de instrumentos e material (que não é barata), ao investimento em gravações de material áudio e vídeo, entre outras. Sinto, por vezes, que o título de músico como profissão é uma ideia ainda pouco respeitada, que para muitos é vista apenas como um hobbie, como se andássemos a “brincar à música”. Concordo que pode parecer fácil aos olhos dos que veem os concertos e as obras feitas, mas a maior parte do trabalho e esforço está oculta, falta perceber e valorizar isso.
Algum desejo ou apelo que queiras fazer à comunidade?
Gosto sempre de apelar à paciência e compreensão entre as pessoas. Sinto uma tendência global de individualismo e competitividade que se resolve quando percebemos mais as nossas semelhanças e aquilo que todos procuramos: estar bem. Talvez seja utópico pensar assim, mas precisamos incentivar-nos às boas coisas da vida, não valorizar tanto o que negativo nos acontece, rir mais, contar anedotas, cantar e dançar, procurar sanar o nosso espírito da forma que acharmos mais conveniente. Acho que no fundo todos sabemos como nos sentir bem, porém o peso da rotina pode sempre desviar-nos desse estado de espírito, temos de o resolver sem projetar as nossas frustrações às pessoas à nossa volta. Devemos sempre dar o que queremos receber.