De sexta a domingo, a Casa da Cultura de Ílhavo (CCI) e a Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré (FIGN), receberam duzentos e cinquenta concertos, que fizeram com que passassem pelo evento cerca de duas mil pessoas, resultado de meses de trabalho destes artistas, que responderam ao desafio do ’23 milhas’ de criar a partir de ‘valsas portuguesas’ e do cancioneiro de temática marítima, como resumiu Luís Ferreira: “para o ano vamos desafiar mais. Houve coros em movimento, cinco escolas (de música) a mostrar que o futuro vai ser risonho, concertos de músicas originais, músicos a compor bandas sonoras para vídeos que vocês conhecem sobejamente bem, bandas de roque a ocupar os subpalcos e as garagens e oficinas de casas, cinco ranchos que se juntaram num só, fusão entre a música popular e a música pop, foi obra”. O programador mostrou-se orgulhoso: “uma obra destes músicos e da equipa imensa do ‘23 Milhas’. Imensa, em capacidade de trabalho, mas muito pequena, porque não parece que são só 15 pessoas que fazem acontecer a programação cultural do município e ainda dão corpo a mais de 10 festivais anuais”, continuou.
Três centenas de músicos ilhavenses apresentaram propostas inéditas nas suas interpretações de canções históricas, do contexto da vida na faina e três espetáculos criados, especialmente para este festival. No último dia, o auditório da CCI encheu-se para aplaudir a Filarmónica Gafanhense (FG) e a Banda dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo (BBVI)- Música Nova. Luís Ferreira mostrou-se “estasiado”, definiu o concerto como “maravilhoso” e demonstrou “muito orgulho por fazer parte de um município onde há projetos tão bons”.
Também o maestro da FG, Henrique Portovedo quis manifestar o seu apreço ao programador, a quem dedicou o concerto, dizendo que este é “um festival de extrema importância para a galvanização do produto cultural de ílhavo. É um município que aposta na cultura como muito poucos apostam e as orquestras e bandas filarmónicas fazem parte deste enquadramento”. O músico, que já pensou “desistir da música, muitas vezes”, porque “é muito duro ser artista”, inspirou-se no pós-revolução industrial, em que se “aniquila a criatividade”, fazendo a associação da “Faina enquanto regularidade do processo laboral”, em que surgiram “ruídos e sons eletrónicos, feitos pelas máquinas”. Henrique realçou a nova vivência das filarmónicas no panorama musical nacional, porque “já não têm fins recreativos, têm fins culturais”, concluiu. Jorge Pires Ferreira, Maestro da BBVI – Música Nova, trouxe um reportório de “Lusitanidades”, que abriu com a “Canção do Mar”, eternizada na voz de Dulce Pontes e finalizando com “Navegar, Navegar, de Fausto Bordalo”. O músico concorda que a vida de artista é um vai e vem difícil, mas que: “foi a vida que eu escolhi, a música faz parte de mim”.
Quem o garante é Luís Ferreira. Ao jornal ‘O Ilhavense’, o programador do ’23 milhas’ explicou que “A Milha é um contexto de ambição, em que queremos que todos os músicos de Ílhavo sejam maiores, que se transformem e que transformem o território ao qual pertencem. A Milha é festa, é celebração, é palco. Trazemos a Gafanha da Nazaré para Ílhavo e vice-versa, provocando este encontro, porque a cultura é isso, em última instância, o objetivo da cultura é criar encontro”, começa por dizer.
Citando Zeca Afonso, Luís partilhou que a Revolução Cultural não era ir tocar a todos os sítios, porque isso ele já fazia. Era ir aos sítios e poder ouvir o que lá se toca. Assim, “Ílhavo quer, gosta e precisa muito de festa e esta é a festa de todos e eu estou muito orgulho de todos: dos músicos, do público, da equipa, das associações, do executivo, de toda a gente que contribuiu para esta celebração. Celebrar a cultura, o passado e adivinhar um futuro, celebrar as pessoas”, continuou.
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