O Paxão fazia questão de me proteger e eu de por ele ser protegido. Ele era, juntamente com os Raínhos, os matulões da nossa geração. Era primo do meu pai e seu afilhado, daí se chamar Abraão (Abraão Artur)… mas era por Paxão (contracção de Paixão que era o nome de seu pai, o Ti Paixão) que era conhecido. Certo dia de Verão de início de férias grandes, estava marcada para a tarde, depois das aulas, uma espécie de tradição… uma batalha campal entre a escola de Espinheiro da Rua Ferreira Gordo e a de Cimo de Vila que já funcionava na Avenida da Nossa Senhora do Pranto e que eu frequentava. Os campos de batalha eram pelas agras e terras de cultivo das Cancelas onde, na altura, as casas eram escassas e as larguezas muitas. A luta não era corpo a corpo, nem à calhoada, nem à caliçada, era à torroada. Eram, de ambos os lados, por aquelas mãos sujas de tinta, arremessados torrões que se pulverizavam ao primeiro impacto. Não sendo tão perigosos como as pedras, as caliças ou os calhaus, também magoavam e faziam mossa, deixavam mazelas, pisaduras e nódoas negras ao se desintegrarem e principalmente roupa suja, que era o dano colateral mais grave do bombardeamento… de tal maneira que, como ainda se usava bata branca, esta era despida e guardada antes de se entrar na contenda, para que se poupasse no raspanete caseiro, que sendo inevitável, seria mais atenuado. Às vezes ouviam-se gritos e lamentos doridos por entre os “soldados”. Os protestos em vernáculo dos lavradores das terras e das sementeiras, apesar de veementes e violentos, caíam quase sempre em saco roto, só a ameaça de sermos chamados ao posto nos afligia. Os GNR’s desse tempo, metiam respeito, não por serem todos machos nem por haver as misturas de género que há hoje, (Mas, atenção, contra isso nada!) mas porque os arcaboiços sisudos e imponentes do Ti João Sargento, do Ti Prina, do Ti Marçalo…
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