‘Da Escola para a Comunidade, da Comunidade para a Escola’ foi o tema da primeira edição do Congresso Internacional de Mobilidade Escolar Sustentável (CIMES), que decorreu, nos dias 27 e 28 de outubro, na Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré.
O evento, promovido pela Câmara Municipal de Ílhavo e organizado pela Nuno Zamaro Mobility, contou com a presença do Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, que começou por visitar a oficina do Gafe Bike Lab, na Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, projeto que considerou pioneiro e progressivo, desejando que seja «um exemplo para que apareçam mais no país». Jorge Delgado destacou ainda o grande parque de estacionamento de bicicletas existente na escola, como algo que nunca tinha visto.
Após inaugurar a exposição ‘Fazedores & Inventores de bicicletas, componentes, acessórios e serviços’, da Abimota, Jorge Delgado procedeu à abertura do painel da tarde. Na sua intervenção, despertou consciências ao elencar vários pontos fundamentais – ou comportamentos errados – da sociedade dos dias de hoje: «são tempos sem dúvida insustentáveis, e há muito trabalho a fazer. Começa em casa, onde, por exemplo, cada um liga a televisão no seu espaço, com a luz acesa, em vez de estarem todos na mesma sala, com uma só televisão. O mesmo se pode dizer na utilização do carro, que resulta em engarrafamentos incríveis no século XXI». Para Jorge Delgado, há mais que uma solução: «uma delas, é garantir a utilização do transporte público como ‘espinha dorsal’, estando, por isso, o Estado a apoiar as autarquias de menor densidade populacional, para que tenham sistemas de transportes públicos, mais eficientes, entre outras iniciativas».
Na abertura do congresso, o presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, João Campolargo, lembrou que este evento integra o programa da Semana Europeia da Mobilidade e enumerou algumas medidas que estão a ser tomadas. Para privilegiar a circulação não motorizada e proporcionar uma maior segurança «o Município tem dado continuidade ao trabalho de manutenção, conservação e criação de ciclovias, reforço de lombas redutoras de velocidade e sinalização de novas Zonas 30 e de Zonas de Coexistência».
Também na abertura do congresso, José Nuno Amaro, da Nuno Zamaro Mobility, aproveitou a presença de diversos agentes decisores para os incentivar a tomarem decisões diferenciadoras: «tenham coragem de fechar ruas, para uma mobilidade suave, valorizando o espaço público para as pessoas. Não há ninguém a perder eleições por devolver a população às ruas, às praças, às zonas centrais das cidades».
No primeiro dia do congresso, os participantes tiveram oportunidade de conhecer um projeto internacional de enorme sucesso, o ‘Mozambikes’, que já entregou mais de 75 mil bicicletas em Moçambique. Do panorama nacional foram partilhados exemplos (bem) vivos das autarquias de Vila Nova de Poiares, Guimarães, Lagos e Évora, bem como projetos escolares como o do Agrupamento Irmãos Passos, de Matosinhos. Foram ainda apresentados projetos de órgãos estatais, como o ‘Desporto Escolar sobre Rodas’, da Direção-Geral de Educação. A Abimota partilhou valiosos conselhos sobre o que saber e fazer antes de comprar uma bicicleta. Por último, Alexandra Monteiro, do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro, falou sobre a qualidade do ar que respiramos e os benefícios de andarmos de bicicleta, ou a pé, sem colocar de lado os transportes públicos.
Já no segundo dia do congresso, a partir da Bélgica, Glenn Godin deu a conhecer a Mobiel21 e a realidade belga, onde as ruas das escolas são fechadas durante uma hora nos períodos de maior afluência, de manhã e de tarde. A GNR, através do Destacamento Territorial de Aveiro, apresentou o programa Escola Segura, falando de segurança e de boas práticas, dando depois espaço a um dos melhores exemplos que se faz em Portugal, o Comboio de Bicicletas, da Bicicultura. A Federação Portuguesa de Ciclismo, a Braga Ciclável e a Universidade de Coimbra, com o programa 3C’s, terminaram as apresentações, abrindo o mote para o debate, moderado por José Carlos Mota, da Universidade de Aveiro.
Já perto do final do congresso foram apresentados os trabalhos em desenvolvimento do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável do Município de Ílhavo, atualmente na fase final de diagnóstico e de caracterização da situação atual. Este plano tem seis objetivos fundamentais: promover a utilização de transporte público; aumentar o número de viagens a pé; continuar a expansão da rede ciclável; fomentar a utilização do espaço público urbano; reduzir a velocidade nos arruamentos residenciais; reduzir a pressão automóvel nas zonas balneares.
Em jeito de balanço do CIMES, João Diogo Semedo, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, afirmou que o congresso «é um investimento do município, em resultado de um desafio mútuo com a Nuno Zamaro Mobility, que resultou num programa consistente, pela sua qualidade e diversidade do conteúdo das apresentações e debates a que pudemos assistir». João Diogo Semedo destacou ainda a participação de agrupamentos de escolas, municípios, organismos e outras instituições públicas, que vieram de norte a sul do país. O Vice-Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo espera que o conhecimento proporcionado nestes dois dias possa contribuir para uma maior capacidade «de recriar e melhorar os nossos territórios». E acrescentou: «Numa perspetiva da educação, que consigamos identificar e eliminar bloqueios, para dar mais condições de segurança, para que os pais permitam os filhos andar a pé e de bicicleta, e, dessa forma, no futuro, haver pessoas mais independentes e com mais destreza. Se todos aqui estamos é porque queremos fazer melhor e errar menos. Muito satisfeito com o balanço. Estão reunidas as condições para que se repita nos próximos anos.»