Editorial da edição de 15 de Julho

Nesta quinzena, levamos o jornal para a praia, debaixo do braço como se de uma prancha de surf se tratasse, e atiramo-nos às ondas do nosso tempo.

Para trajar a rigor, trazemos em destaque João Velhinho, fundador da Palu, uma marca de roupa de surf que veste a camisola da sustentabilidade e da ecologia, que nos diz que o verdadeiro surfista se faz ao mar quer esteja a dar ondas quer não esteja. Da nossa parte, não quebramos a regra e, quinzenalmente, venham as que vierem, aqui estamos.

É o mar que nos chama, para usurpar uma frase ao Fausto,  de quem nos lembraremos nesta aventura. Seguimos com ele, a voar por cima das águas de um mar encrespado, onde ondas á direita e esquerda disputam esta tempestade perfeita que vivemos, produzindo a chamada espuma dos dias.

Já as grandes vagas que lá vêm ao fundo, nessas nem McNamara mete a quilha: emergência climática,  a guerra, a crise humanitária. É bom que o Verão não nos distraia demasiado delas, porque  diante de um tsunami, não nos adianta nada enfiar a cabeça debaixo de água.

Mas não descuramos o verão, a única estação, nem as ondas, mesmo as marolas, das pranchas de Surf na rebentação da praia, dos Vougas a zarpar da Costa Nova e nem sequer das dos kayaks e canoas do CNAI, na Barquinha.

E falando de Vougas e veraneio, vem-me à memória uma apresentação feita pelo meu pai (que voa por cima das águas,e vem por cima  dos meus pensamentos, e que não quero deixar de fora deste primeiro editorial), no Museu Marítimo de Ílhavo, a propósito do Vouga na Costa Nova, e de uma conversa sobre essa vaga mais ampla que, no século XX, na nossa costa, na nossa ria (e nas de toda a Europa, mais e mais cedo), foi adicionando a uma paisagem de trabalho, uma de lazer – do surf, da vela, da pesca desportiva – numa maré enchente de acesso, de direito, ao Verão.

Talvez seja a útil  para navegar estes tempos de tormenta, olhar para o que aconteceu a esse direito ao veraneio, ao lazer, ao banho, às ondas, e para quem, no meio desta epopeia de progressos, entre o trabalho e o lazer tem sido deixado em terra a ver navios.

Para terra sigo agora, evitando embrulhar-ne na rebentação desta prosa, com as páginas do jornal um pouco molhadas, estendidas, a olhar para o ocaso no ocidente, a beber um refresco. Amanhã a maré muda, está sempre a mudar.

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