Em setembro de 2019, O ILHAVENSE noticiava o início da aventura de duas jovens ilhavenses num programa internacional de dois anos em colégios da rede UWC – United World Colleges – que lhes permitiria concluir o ensino secundário, respetivamente, na Índia e na Tanzânia. Agora, cerca de sete meses depois, a pandemia global de Covid-19 obrigou-as a um inesperado e extemporâneo regresso a Portugal, onde vão completar o ano letivo com aulas por videoconferência. 

Atualmente, existem 18 colégios UWC espalhados um pouco por todo o planeta e, devido à crise sanitária, a maior parte viu-se obrigada a fechar portas e passar a funcionar exclusivamente em regime de ensino à distância. Há alguns casos excecionais: o Li Po Chun UWC, em Hong Kong, por exemplo, está só “parcialmente encerrado” e “a estudar a possibilidade de uma reabertura [para pleno funcionamento] ainda este ano letivo”; no UWC Robert Bosch, na Alemanha, e no UWC em Phuket, na Tailândia, optou-se por colocar todo o campus em quarentena – ninguém entra ou sai dos recintos daquelas escolas; quanto ao UWC South East Asia, em Singapura, a estratégia passou pela antecipação das férias, encontrando-se este colégio, por isso, em período de interrupção da atividade letiva. 

 “Tanto quanto sabemos, não há nenhum caso confirmado de Covid-19 entre os atuais alunos ou funcionários de qualquer escola da UWC. Consequentemente, todas as medidas tomadas permanecem preventivas e cumprem as autoridades nacionais de saúde e as diretrizes governamentais”, esclarece a organização, num comunicado publicado no site da UWC International. “Todas as escolas da UWC estão a agir de acordo com sua localização, contexto e conselhos das autoridades locais, embora reconheçam que a situação está em constante evolução”, acrescenta. 

No que respeita ao UWC East Africa, na Tanzânia, onde se encontrava a ilhavense Sofia Vizinho, está encerrado, tal como o UWC Mahindra, na Índia, onde estuda Catarina Semedo. 

Catarina, de 18 anos, estava “a viver o sonho de uma vida”. Estudar no UWC Mahindra, na Índia, apesar de ser “desafiante” e “intenso”, “pela quantidade de energia, disciplina, organização e disponibilidade emocional que exige”, fá-la “extremamente feliz”. No entanto, a 10 de março, com a evidência da rápida propagação do surto de Covid-19 em território indiano, a direção do colégio percebeu que não podia adiar o inevitável: “em lágrimas”, lembra Catarina, a diretora do UWC Mahindra comunicou a toda a comunidade escolar que, por motivos de segurança e devido às cada vez maiores restrições às viagens internacionais, aquele colégio teria de encerrar portas e que os estudantes teriam, no máximo, quatro dias para regressar a casa. Um prazo muito curto para quem não só tem de lidar com a carga emocional de uma despedida abrupta dos amigos com quem, nos últimos meses, tudo se partilhou, mas também de organizar, logisticamente, o regresso ao país de origem. Como diz Sofia Vizinho, de 17 anos, a estudar no UWC East Africa, na Tanzânia “sete meses não se arrumam na mala em meia dúzia de dias”. 

A constante supressão de ligações aéreas e o galopante encerramento de fronteiras também fez estragos no continente africano. Sofia conta mesmo que “alguns colegas já não foram a tempo de voltar a casa”. 

Felizmente, não foi o caso de Catarina e Sofia que estão de regresso a Portugal há cerca de um mês. Nestes dias, têm tido aulas, testes, trabalhos, ensaios ou dissertações online, um desafio novo, tendo em conta os hábitos de aprendizagem em grupo que vinham criando, as saudades dos colegas e, claro, o fuso horário de cada estudante. “A aula que, para mim, é por volta da hora de almoço, para o meu colega no México começa às seis da manhã e termina às 23h30 para o das Filipinas”, relata uma das jovens. 

Catarina diz que “[os responsáveis da escola] averiguaram quem tinha ou não wi-fi para pode acompanhar as aulas online” e, em conjunto com alunos, professores e famílias, em pouco tempo, arranjaram soluções: “Entre todos conseguimos organizar-nos para que ninguém ficasse sem um computador onde pudesse trabalhar, tendo o colégio emprestado os que tinha”.

Sofia também tem tido aulas virtuais, “mas a internet não faz justiça ao mundo que lá deixei”. “Resta-me ‘engolir um grande sapo’ e lamentar esta pausa”, acrescenta.

Para Sofia, a chegada a casa fez com que a pandemia tomasse novas proporções. “O país deserto [devido às normas de confinamento] foi uma realidade que me foi apresentada de rompante”, admite, explicando que “a bolha onde vivemos [nos colégios UWC] isola-nos de muitas coisas, sendo uma delas o pânico que se vinha a instalar pelo mundo”. No campus do UWC East Africa, na Tanzânia, “o contacto com o exterior é reduzido e não tínhamos notícia de infetados” no país. Ainda assim, Sofia garante que “a administração do colégio manteve sempre toda a comunidade informada acerca da progressão da situação” e, mesmo à distância, continuam em contacto com os estudantes. 

Tanto no caso de Sofia como no de Catarina, “as previsões apontam para o regresso em agosto, a tempo de começar o novo ano letivo” e as ilhavenses têm esperança que isso possa vir a acontecer. Ainda assim, estão conscientes da imprevisibilidade desta pandemia e sabem que o regresso ao sonho vai sempre depender da evolução da situação mundial. 

À data de fecho desta edição d’O ILHAVENSE, a Tanzânia contava com 46 casos confirmados de Covid-19 e três mortos. Na Índia, há 9635 infetados e o número de mortos já é superior a 330, segundo dados da Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos da América. 

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