Já não era sem tempo. Como toda a gente sabe, desde sempre a minha raça tem sido desrespeitada em Portugal e injustamente, posso afirmar. Mas a minha fama já vem de longe como o Constantino. Quando a mãe do menino mais célebre da Terra andava à procura de um cantinho para o filho nascer, quem é que a ajudou na caminhada? “O burro”. O Menino Jesus nasce, cresce, sai de casa e anda por caminhos pedregosos montado em quem? “Num burro”. Querem maior honra do que esta? Servir de transporte ao Salvador não é para qualquer um…
Tenho sido desprezado, às vezes vilipendiado no nosso País mas a partir de agora outro galo vai cantar porque há um grupo folclórico que está a levar a peito a minha recuperação social e que adotou um nome sugestivo: PAN. Gosto. Defende a minha posição na sociedade, no código das estradas, pune quem abuse da minha paciência que vai deixar de ser “de burro”, reserva-me um espaço nas estradas, tipo ciclovia, enfim… Começo a sentir-me gente. Há muitos anos atrás, Gil Vicente tentou dar-me algum valor quando pôs na boca de Inês Pereira, uma moçoila armada em esquisita, a seguinte frase- “Mais quero asno que me leve do que cavalo que me derrube.” Acabou a menina por seguir o conselho do escritor e que me conste deu-se bem com a escolha.
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