AFONSO RÉ LAU

Vera Cruz, a mais exata réplica das antigas caravelas portuguesas do tempo dos Descobrimentos, fez uma visita relâmpago ao Município de Ílhavo para a rodagem da mais recente longa-metragem do cineasta portuense Luís Ismael.

O ILHAVENSE visitou o set de rodagem – improvisado no Cais Bacalhoeiro da Gafanha da Nazaré – num momento em que toda a equipa da Lightbox – responsável por esta produção cinematográfica – estava atarefada a preparar a mise-en-scène (construção do cenário e adereços, posicionamento da luz, enquadramento da câmara, etc.). Com Luís Ismael – o realizador – ocupado a estudar planos para as cenas que, dali a algumas horas, iria gravar, foi Francisco Vidinha – diretor de fotografia – a contar-nos tudo.

“1618”, a sexta longa-metragem de Luís Ismael, “narra a entrada da inquisição na cidade do Porto com todas as consequências nefastas que isso criou”. Uma produção totalmente portuguesa, a cargo da Lightbox, produtora audiovisual especializada em Cinema, Publicidade e Corporativos, com sede no Porto.

De Lisboa ao Alto Minho, a rodagem de “1618” já percorreu muitas localidades. Filmaram nos mosteiros de Arouca, Tibães e Pombeiros, bem como em cenários construídos nas cidades do Porto, Leça do Balio, Sortelha, Santa Maria da Feira, Chaves, Ponte de Lima e, agora, na Gafanha da Nazaré.

Por cá, as filmagens decorreram no fim de tarde e na noite do dia 26 de novembro e nas primeiras horas da madrugada seguinte. “Estamos a recriar o momento em que [os judeus perseguidos] embarcam rumo a Amesterdão”, esclarece Francisco Vidinha. “Vamos ter mais de 80 figurantes em cena, crianças e até cavalos”.

À medida que nos vai pondo a par de tudo o que se passa no cais, Vidinha consulta a hora prevista para o pôr-do-sol e cruza essa informação com as de uma tabela de marés da região. Tudo tem de bater certo! Precisa-se de um ambiente escuro – trata-se de uma cena noturna -, mas é essencial que a embarcação esteja suficientemente elevada relativamente ao cais. Há, por isso, que jogar com o horário das marés e adaptar o planeamento de cada uma das cenas a todas as condições. Para as primeiras horas da noite, ficam programadas as cenas no interior da caravela. Quanto aos planos gerais da embarcação atracada, terão de aguardar pelo estofo da preia-mar, por volta das três horas da madrugada. Mas o diretor de fotografia está esperançoso:

“Com tudo a correr bem, por volta das quatro ou cinco da manhã estamos a sair daqui. Isto, se o vento o permitir”. O vento. Muito mais do que a chuva, o frio ou a amplitude das marés, é o vento – tão característico da nossa terra – o agente climatérico que mais pode prejudicar o normal desenrolar do processo de rodagem. “Vamos ter estruturas de iluminação montadas a vários metros de altura e estão previstas rajadas de 40 quilómetros por hora. Isso preocupa-me”.

Este deverá ser o penúltimo dia de rodagem de “1618”, uma jornada que começou em setembro e que, não fossem as condições climatéricas adversas, que acabaram por impossibilitar algumas cenas de exterior, já deveria ter terminado há algumas semanas. Seguir-se-á a fase de pós-produção, a criação da banda sonora e a montagem do filme. Ao grande ecrã é provável que “1618” só chegue em 2021.

História da comunidade judaica inspira Ismael

Já em 2018, Luís Ismael – cineasta, empresário e ator, conhecido pelo seu trabalho na trilogia “Balas e Bolinhos” – tinha apresentado a longa-metragem “Sefarad”, que contava a história da comunidade judaica portuense entre 1496 – data da expulsão dos judeus de Portugal ou da sua conversão forçada ao cristianismo – e 1923 – ano em que a comunidade israelita se estabeleceu no Porto.

Nesta segunda película, “uma espécie de sequela de ‘Sefarad’”, Ismael foca a ação no período inquisitorial em Portugal, com base em factos que terão acontecido em 1618.

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