A atualidade que vivemos mostra-nos um futuro incerto, uma exploração dos recursos naturais excessiva e as suas consequências globais. Uma das grandes consequências é a perda de biodiversidade e do equilíbrio dos ecossistemas. Não se regista um tempo em que a conservação global da Natureza fosse tão necessária. Mas antes de aplicar qualquer medida de conservação, é necessário conhecer o que se quer proteger.

A região aveirense é uma região privilegiada pela presença da Ria de Aveiro. A Ria é um sistema estuarino, ou seja, onde a água doce cheia de sedimentos e nutrientes do rio Vouga se mistura com a água salgada, mas mais pobre em nutrientes, do oceano Atlântico. E, tal como todos os estuários, é um sistema muito produtivo.

O concelho de Ílhavo situa-se junto a um braço da Ria de Aveiro, o chamado Rio Boco. Dentro do concelho temos diversos tipos de habitats, estendendo-se estes desde a área costeira até às diferentes zonas húmidas no Rio Boco, passando ainda pela Mata Nacional das Dunas da Gafanha e por diversas áreas agrícolas. Cada um destes habitats alberga um conjunto diferente de organismos, adaptados às condições ambientais que lhes são oferecidas (humidade, temperatura, tipos e abundância de nutrientes, salinidade, entre outros). Falar-vos-ei hoje de dois: o sapal e a mata.

Começando pelo habitat terrestre, a agora designada Mata Nacional das Dunas da Gafanha, formou-se quando, em 1887, a Câmara Municipal de Ílhavo cedeu ao Estado 400 ha de areias móveis para que fossem florestadas. Com o passar dos anos, estas plantações foram alargadas para mais áreas dunares, eventualmente chegando à área que conhecemos hoje. De espécies arbóreas temos maioritariamente pinheiro-bravo (Pinus pinaster), salgueiro-preto (Salix atrocinera), samouco (Myrica faya) e eucalipto (Eucaliptus globulus) que se classificam como espécies nativas e exóticas (eucalipto) e várias espécies de acácias, classificadas como espécies exóticas invasoras. De vegetais registam-se ainda alguns arbustos, musgos e certos grupos de herbáceas – ervas em linguagem corrente.

Para quem não está habituado a lidar e a conhecer a biodiversidade do nosso país, pode parecer que se tem uma boa quantidade de espécies, mas a sua diversidade não se aproxima daquela que se vê e se sente numa floresta nativa. E estando as plantas na base de uma grande variedade de cadeias alimentares, a sua limitada diversidade gera então uma diversidade limitada de outros grupos de seres vivos – tais como os animais. Mesmo assim, é possível encontrar vários dos seus grupos – insetos, moluscos, anfíbios, répteis, aves, mamíferos… Por último, as espécies exóticas invasoras, como as acácias, representam uma grande ameaça a todas as anteriores, já que são capazes de competir com as suas pares vegetais residentes, apoderando-se dos seus recursos – posteriormente modificando a composição vegetal de que muitos outros organismos dependem.
Passando agora para mais perto da Ria, temos as zonas húmidas. Os estuários são zonas húmida mas, dentro deles, dentro da Ria de Aveiro, existe uma faixa especial e muito importante que faz a transição entre a água e a terra: o Sapal. Os organismos que vivem no sapal são únicos e especialmente adaptados às mudanças do nível de água, exposição solar e salinidade que vêm com as marés. Aqui, observáveis, encontramos plantas como o caniço (Phragmites australis) e a salicórnia (Salicornia ramosissima), várias espécies de plâncton, crustáceos, peixes, mamíferos e aves, entre outros. Os sapais conseguem ser populares entre fotógrafos de Natureza por possuírem uma comunidade de aves muito diversa. Deixo aqui alguns exemplos: águia-sapeira (Circus aeruginosus), garça-cinzenta (Ardea cinerea), corvo-marinho (Phalacrocorax carbo), águia-pesqueira (Pandion haliaetus). Este ecossistema é muito produtivo e extremamente importante para o combate às alterações climáticas, já que, por metro quadrado, sequestra mais carbono que uma floresta tropical.

Estes habitats, e por sua vez os ecossistemas que albergam, têm grandes potencialidades que não abordei aqui, não só para sustentar a biodiversidade, mas também para sustentar a nossa economia e o nosso bem-estar. Desde o combate às alterações climáticas que já vimos no sapal, até por exemplo à produção de espécies comestíveis e ao ecoturismo, ganhamos sempre se soubermos aproveitar e gerir os nossos recursos naturais. Assim sendo, os nossos recursos naturais merecem ser conhecidos

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