A ilhavense Ana Luísa Ramos venceu a última edição da São Silvestre El Corte Inglès, em Lisboa, naquela que é uma das provas mais mediáticas de atletismo do nosso país.
Ana Luísa Ramos foi a primeira colocada da classificação geral feminina nos 10 quilómetros, ao cruzar a meta em 39.05 minutos.
Depois desta vitória, O Ilhavense foi conhecer um bocadinho melhor a ilhavense enfermeira que teve de sair de Ílhavo para se dedicar mais a sério à prática do triatlo.
«Foi muito bom» vencer a São Silvestre de Lisboa, explicou Ana Luísa Ramos, confessando que «não estava à espera, porque eu faço triatlo e nós fazemos provas de atletismo para preparar a época de triatlo, e, como comecei há pouco tempo, não estava à espera de ganhar».
Depois de aprender a nadar nas escolinhas em Ílhavo, Ana Luísa Ramos praticava natação no CAPGE quando começou a participar em corta-matos na escola. «Depois, um professor falou comigo que poderia ser interessante eu experimentar o triatlo, visto que já nadava e dava ali uma perninha nos corta-matos», conta a triatleta, explicando que depois se juntou ao Grupo de Triatlo do Beira Mar, que mais tarde se associou ao CAPGE. «Aí, com 16 anos, comecei a praticar de uma forma mais regular o triatlo», lembra.
«Com 17 anos entrei no Centro de Alto Rendimento em Montemor e então aí é que comecei mesmo a praticar a sério», conta Ana Luísa Ramos, que é enfermeira de profissão, mas para quem o triatlo é mais do que um hobby. «Estando tanto tempo ligada a uma modalidade, e eu cheguei mesmo a fazer alguns anos em que posso dizer que era profissional do triatlo, é difícil desligar por completo e dizer que é um hobby».
Para a triatleta, «Ílhavo tem condições ótimas» para a prática do triatlo, com «uma ria, que é espetacular para podermos treinar, temos plano e temos montanha, e mesmo para correr é ótimo», contudo, Ana Luísa Ramos sente que «em termos de triatlo, nunca deu grandes condições aos ilhavenses».
A atleta lembra a frustração que o treinador que sempre a acompanhou, Jacinto Silva, sentia, «porque parecia que estava a lutar contra uma maré, porque não facilitam sequer a entrada de um treinador para dar treinos». Ana Luísa considera que «estamos muito atrasados comparativamente a outros municípios. Temos tudo para ter boas condições no triatlo. Basta querer», confessa. «Mesmo a piscina de Ílhavo, já precisava de uma reabilitação, e não existe», lamenta a triatleta, concluindo que «se está a apostar muito no futebol e no basquetebol», deixando as outras modalidades para trás.
Para além das condições da piscina ou das estradas ilhavenses, que «dava jeito estarem melhor alcatroadas», Ana Luísa sugere ainda «alguma parceria, nem que fosse com a Câmara de Vagos, para a utilização da pista, porque em Ílhavo não temos pista de atletismo», afirma, lembrando a pista do Grupo Desportivo da Gafanha, que «muitas vezes não é possível andar lá a correr à volta com os treinos de futebol». No sentido contrário, a triatleta lembra que no Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Lisboa, tem acesso à pista de atletismo, à piscina, a massagens ou a fisioterapia.
Ana Luísa recordou depois o momento mais alto da sua carreira, quando, «durante dois anos, andei a correr o circuito Taças do Mundo», ou «quando consegui os meus primeiros pontos olímpicos. Na altura acabei por não seguir numa luta olímpica, mas aquela primeira prova numa Taça do Mundo, onde consegui os meus primeiros pontos olímpicos, foi um ponto alto».
No sentido inverso, Ana Luísa lembrou o seu primeiro Campeonato do Mundo de Triatlo em juniores. «Estava com bastante expetativas, tínhamos feito um estágio de preparação em Rio Maior e eu sentia-me super bem», começa por recordar aquela que «foi a pior prova que eu já fiz na vida». «Desde terem passado por cima de mim a nadar, saí quase em último da água, depois ainda escorreguei quando ia agarrar a bicicleta, a bicicleta foi à vida, depois os calços ficaram trilhados na bicicleta e a roda não rolava», lembra Ana Luísa, apesar de ter sido «tudo para esquecer».
Para o futuro, Ana Luísa Ramos quer continuar a marcar presença na seleção nacional, depois de ter sido convocada todos os anos desde 2012. «Este ano não sei se serei capaz de atingir o objetivo de voltar à seleção, mas vou trabalhar por isso», garantiu a triatleta, lembrando também o seu clube Torres Novas. «No ano passado ficámos em segundo no Campeonato Nacional. Portanto, este ano é para tentar o título», refere.
Ana Luísa Ramos ainda deixou um conselho para jovens atletas que queiram seguir um percurso mais profissional. «Não desistam dos vossos sonhos», diz, explicando que «numa fase muito inicial, o talento funciona. Mas se quisermos chegar mais longe, precisamos de muito trabalho».
Publicado no jornal O Ilhavense de N.º1317 de 15 de janeiro de 2023