Presidente da Concelhia do PSD de Ílhavo, desde junho do ano passado, Fátima Teles tem um objetivo para 2025 (eleições autárquicas): conquistar de novo a Câmara Municipal, recuperar a Junta de S. Salvador, manter as Juntas de Freguesia, da Nazaré, da Encarnação e do Carmo e a maioria na Assembleia Municipal.

Rosto mais visível de um triunvirato feminino social-democrata ilhavense (Margarida Alves presidente do Plenário de Militantes concelhios e Sara Fernandes, líder da JSD ilhavense), Fátima Teles, em entrevista a O Ilhavense, considera que não foi o PSD que perdeu as últimas autárquicas, mas o movimento “Unir para Fazer” que as ganhou sem saber como.

● Como Presidente do PSD Ílhavo que desafios vai ter? E que desejos?

Desafio gigante este, o de fazer as pessoas acreditarem de novo na ideologia social-democrata, de reforçarmos a credibilidade nos nossos ativos, nas nossas pessoas, de mostrarmos que não vamos desistir e que precisamos que todos se juntem a nós e não desistam. Recuperar a autoestima que saiu abalada em outubro de 2021.

Não é um desejo, é um objetivo. Em 2025 o PSD pretende manter as suas Juntas de Freguesia, da Nazaré, da Encarnação e do Carmo, a Assembleia Municipal e recuperar a junta de S. Salvador e, claro, a Câmara Municipal. Acreditamos neste objetivo e estaremos focados em atingi-lo.

● Em termos políticos, lida bem com as derrotas, com as contrariedades?

Estaria a mentir se dissesse que sim. É duro quando damos tudo e estamos certos do nosso valor e o resultado não corresponde às expectativas, contudo é importante reciclar o desalento sentido, em nova energia. Foi o que fiz, recomecei um novo caminho, reconhecendo as dificuldades, mas acreditando nas competências.

● Já esteve no executivo camarário. Como é ser vereadora na oposição?

Uma enorme responsabilidade. É necessário um olhar redobrado sobre todas as matérias e dossiers. Estudar, analisar, consultar, refletir, sem falhas e com o máximo de precisão. Aprovar ou chumbar uma proposta requer opiniões consolidadas, não há lugar para dúvidas.
A grande diferença da posição, para a oposição? Todo o apoio de retaguarda que deixa de existir.

● Esteve muito ligada ao setor social. Como vê a transferência de competências para a autarquia na área desse setor? Estará Ílhavo preparado para isso?

Felizmente o Município de Ílhavo está, desde há muitos anos a esta parte, muito bem dotado de entidades na área social, desde logo o Atendimento Social Integrado, onde têm lugar entre outras, as nossas IPSS.
Primando pela articulação que sempre existiu e que sempre se trabalhou com excelência, a transferência de competências será bem-sucedida e sairão a ganhar todos quantos estão envolvidos.

● Um comunicado do PSD acusa o executivo camarário de ter, não só copiado ao PSD, a ideia do cartão de benesses para os bombeiros, como de retardar esse benefício. Quer explicar?

O que o PSD veio foi repor a verdade. E a verdade é esta: em abril de 2021, no mandato PSD, a Câmara aprovou um regulamento de concessão de apoios sociais ao Bombeiros Voluntários de Ílhavo , sendo que nesse mesmo ano em setembro foram atribuídos os primeiros subsídios. O atual executivo faz notícia de algo que deveria ter acontecido há mais de um ano. Os subsídios, cujo prazo de atribuição é setembro, foram em 2022 aprovados em reunião de Câmara apenas em final de outubro. Esta é a verdade, não se trata de copiar, trata-se de demorar a pôr em prática algo que estava pronto e ainda assim, fazer aproveitamento politico desse facto. O PSD quer e exige seriedade política.

● Considera mesmo, conforme afirma, que algumas das ações deste executivo camarário são apropriações das ideias do PSD?

O PSD dotou o nosso município de infraestruturas, de projetos, de atividades, eventos e ações, que, ao longo dos anos, nos conferiram notoriedade, nos deram visibilidade e que deram aos nossos munícipes uma qualidade de vida inegavelmente boa. Este executivo não fez mais do que manter esse trabalho e projetos em marcha. Nada lhes acrescentou de novo, e porquê? Porque estamos a falar de projetos muito estruturados, bem implementados e testados e mudaram o nome de alguns. Não souberam reconhecer a “paternidade” de outros. Enfim, uma mão cheia de nada.

● Como avaliaria a ação do UPF na Câmara?

O UPF foi eleito pelo povo e será ao povo que caberá em 2025 julgar a sua ação. Enquanto vereadora da oposição, aponto ao atual executivo falta de rigor, de ambição, de estratégia a longo prazo. Temos uma maioria populista, apostada apenas e só na imagem. O plano e orçamento de 2023 “empurra com a barriga” para 2024 obras fundamentais. A Câmara tem uma situação financeira como nunca teve, mas falta o arrojo para ver mais além e para fazer o que ainda não foi feito.

● E na Junta de São Salvador?

A Junta de S. Salvador segue a ideologia da Câmara, transformou-se numa “fazedora” de eventos. É a maior Junta do município, mas essa grandeza não se reflete no trabalho, nem em obra executada.

● Como avalia os executivos das restantes Juntas, Nazaré, Encarnação, Carmo.

As Juntas da Nazaré, da Encarnação e do Carmo usufruem de estabilidade, estão no seu terceiro mandato, e isso permite-lhes uma maturidade e uma qualidade na prestação dos serviços, indiscutível.

● O vereador Tiago Lourenço nem sempre vota alinhado com os restantes membros do PSD. Podemos considerá-lo “l’enfant terrible”?

O PSD é um partido plural, democrático e que procura o consenso pelo diálogo. Nessa medida, o voto desalinhado da restante equipa é possível. O que se exige nestas situações é que a equipa esteja preparada para esse sentido de voto, que sendo contrário deverá ser justificado anteriormente. Foi exatamente o que não aconteceu e que originou desconforto no seio da equipa e do partido. Foi devidamente esclarecida e sanada essa questão. A democracia tem estas coisas!

● Como explica que a oposição critique documentos importantes, nomeadamente GOP e Orçamento, e se abstenha sempre na votação?

O PSD respeita em primeira mão a decisão do povo. O UNIR foi eleito para governar, então governe, resolva, construa, auxilie, crie, amplie e faça a diferença que apregoa vir para fazer. O PSD não obstaculizará o seu trabalho, a estabilidade do Município acima de tudo. O PSD está atento ao seu desempenho, exige trabalho e visão a quem está a governar, mas não será a desculpa para que o trabalho não se faça e a obra não apareça.

● Ou será por uma questão estratégica, pensando que o PSD, se houvesse novas eleições agora, não estaria preparado para governar?

O cenário de eleições antecipadas é um cenário que não se coloca neste momento. O UNIR tem todas as condições para governar; tem uma excelente estrutura camarária, tem os cofres cheios, herdou um município bem infraestruturado e preparado. Só não governa melhor, ou como seria desejado, por falta de capacidade e competência política. Mas essa será uma decisão do povo em 2025.

● A oposição chumbou, por duas vezes, a proposta de regularização da taxa dos resíduos urbanos, apresentada pelo executivo UPF. Será um sinal de que a “benevolência” do PSD está a mudar?

A proposta de tarifário de resíduos levada a deliberação de Câmara a 15 de dezembro e no passado dia 5, foi exatamente a mesma, o que é absurdo. Levar uma segunda vez a mesma proposta, já anteriormente chumbada, é no mínimo absurdo. Uma proposta que onera as famílias, que faz recair sobre elas todo o custo. O PSD quis mostrar que havia e há outras alternativas, que aliás se introduziram no passado. É possível não agravar a taxa junto do consumidor final, negociando com a ERSAR uma nova proposta que de forma faseada preveja um aumento gradual até aos valores em questão. Para isso é preciso que o Sr. Presidente da Câmara seja audaz e vá à procura dessa solução

● Está preparada para se candidatar a presidente da Câmara nas próximas eleições?

Aprendi com a vida que o “nunca” é uma palavra que deve ser usada com muito cuidado e se possível evitar. Mas deixem-me descansar-vos; lancei-me neste desafio com objetivos bem concretos, reerguer o PSD em Ílhavo, credibilizá-lo de novo. Estamos a preparar o futuro sim, mas entre o momento atual e as próximas eleições autárquicas, virá ainda um novo mandato na Comissão Política, esse sim decisivo na eleição autárquica de 2025.

● Porque perdeu o PSD as últimas autárquicas, tendo à frente uma figura como o Engº Caçoilo que, segundo afirmou o PSD, fazia um bom trabalho?

Terão sido vários os fatores que nos fizeram não ganhar as eleições. Porque o PSD não perdeu as eleições, o UNIR ganhou, mas também eles sem saberem como. A democracia tem destas coisas. Disse e continuarei a dizer que o Fernando Caçoilo, foi um excelente autarca, focado, determinado, com objetivos claros, que aliás se traduziram ao longo dos anos nos excelentes resultados financeiros obtidos durante a sua gestão. Não me cabe a mim, embora haja quem ache que sim, encontrar as razões para o desfecho eleitoral. A mim cabe-me publicamente enaltecer todo o trabalho que o PSD de forma séria e capaz levou a cabo. Cabe-me também a responsabilidade de retomar o caminho da vitória, contribuindo com todo meu empenho e determinação.

Publicado no jornal O Ilhavense de N.º1317 de 15 de janeiro de 2023