A emissão de selos da República, edições comemorativas dos CTT lançadas após 1910, obedece a critérios extremamente rigorosos. Apenas eventos de grande importância histórica, cultural, patrimonial e social, escolhidos por um órgão independente daquela instituição, composto por personalidades de vários ramos do conhecimento em Portugal, merecem esta eleição.

Em 2024 a escolha recaiu sobre os 200 anos da Vista Alegre, uma efeméride que é, unanimemente, digna de ser assinalada pelos CTT com a maior honra concedida à filatelia. Nestes quatro selos especiais e bloco filatélico comemorativos desta importante data figuram por isso elementos cuidadosamente selecionados, revestidos de enorme valor simbólico. Assim, no bloco filatélico destinado exclusivamente a colecionadores, vemos uma fotografia da fachada da fábrica, estabelecida em Ílhavo em 1824, e o retrato do seu fundador, José Ferreira Pinto Basto, um dos mais importantes empresários portugueses do século XIX. Neste bloco figuram também o Cavalo Lusitano, uma escultura icónica de Donald Brindley, pintada com base num exemplar da Coudelaria Nacional e limitada a 250 exemplares numerados, e uma imagem da chávena e pires (decorados por Fabre Lusitano) da «primeira fornada em grande», conforme está registado no livro comemorativo do primeiro centenário da Vista Alegre. Uma produção anterior a 1835 que marca a passagem da fase de experiências e ensaios da Fábrica para a laboração com carácter industrial.

Nos selos de circulação pública encontramos a representação da escultura Flamingos, de Carlos Calisto, uma série limitada e numerada de 100 exemplares em biscuit moldado e relevado, com decoração policromada pintada à mão. Uma criação que desafiou todas as leis estabelecidas da modelagem em porcelana, graças à extrema delicadeza e expressividade das suas finas formas, de um impressionante realismo.

Se o Cavalo Lusitano e Flamingos são testemunho do nível artístico atingido pelos ateliês da Vista Alegre na escultura, o prato Peónia, da coleção Floris, protagonista de outro selo, traz até aos nossos dias a arte secular da pintura, aprimorada geração após geração, e hoje posta eximiamente em prática pela Manufatura da Fábrica. Essa mesma arte está também patente na jarra Tucano, da coleção Amazonia, cuja forma e decoração revelam o diálogo com outras culturas e a vertente social e humanista da Vista Alegre, através da parceria com a ONG brasileira Ecoarts Amazonia. Por fim, como emblema da capacidade inovadora da Vista Alegre, quer na superação de limites na produção, quer na criação de novos produtos e soluções, surge o candeeiro Nervi, da coleção E2H – Earth to Humanity. Exemplo também de como a Vista Alegre sempre se projetou no futuro, colaborando com os criadores mais visionários (neste caso, Ross Lovegrove) e desbravando consistentemente novos terrenos técnicos e artísticos.