Enquanto ilhavense e interveniente, não posso deixar de assinalar o que aconteceu no passado dia 13 de julho na Rua de Alqueidão.

A Junta de Freguesia de São Salvador teve a feliz ideia de dar nova e pontual vida a uma rua local a propósito das comemorações do 34º Aniversário da Elevação de Ílhavo a Cidade, o que, diga-se desde já, foi um enorme sucesso, com a expressão arraial a ser dignamente utilizada para explicar aquilo que ali aconteceu durante a tarde e a noite.

Sem entrar em pormenores informativos, que é para isso que existe a página com a notícia, tive a bela oportunidade de apresentar os meus livros na minha própria rua, num dia de sol, e partilhar o sítio e as horas com família, com amigas e amigos, com o meu irmão Francisco, que animou miúdos e graúdos ao saxofone, com os Patinho Feio, que estão a rockar melhor do que nunca, com os alternadores de discos Vasco Ramalheira e Nuno Joanão, que puseram a malta a dançar sem parar, e com alguns feirantes.

Reciclando uma parte da minha intervenção oral, o essencial que se retira desse dia 13 de julho tem a ver com duas palavras muito bonitas: comunidade e proximidade. Como disse naquela tarde, sem desprimor pelas festas e festivais maiores que enchem o centro de Ílhavo e outros locais do município, a cultura de proximidade faz mover relações e emoções que não se sentem noutras situações, como nas ditas de massas. Sei do que falo. Já escrevi sobre isso neste jornal, já explanei a luta diária que é dinamizar o subsolo cultural, um confronto que tanto é externo (contra vontades e poderes instalados) como interno (a noção de correr por fora e ser livre).

E quando há alguém, que até pode ser estranho à nossa causa, com os olhos e os ouvidos abertos, as coisas acontecem e os confrontos podem muito bem passar a ser comunhão. Foi o que aconteceu na Rua de Alqueidão, porque a Junta de Freguesia abraçou a comunidade e a proximidade, como tem sido apanágio desse órgão. Por mais que queira correr por fora e ser livre, com os meus livros de terror e os concertos de punk e metal co-organizados entre a associação PostLab e a ACD “Os Ílhavos” (os mais recentes, em junho passado, provaram novamente que é possível e necessário), ser lembrado e exposto à minha terra enche-me o coração.

Diz-se que Ílhavo é má mãe, mas boa madrasta. Os filhos querem ter sempre razão, mas, às vezes, temos de descer do alto da nossa incerta sabedoria e dar a mão à palmatória para dizer que Ílhavo também consegue ser uma boa mãe – podemos achar fenómeno raro, mas consegue. Aquele sábado provou-o.

E não se trata só de mim. Trata-se das centenas de pessoas que vieram e foram, foram e vieram, e que só arredaram pé quando as colunas de som e as lâmpadas começaram a ser desligadas. Trata-se de quem vestiu a camisola da Junta de Freguesia e que teve sempre um sorriso na cara. Trata-se da comunidade e da proximidade, do beijinho e da gargalhada da vizinha, da admiração e constante alegria do vizinho, das histórias partilhadas, das memórias, da música, da cerveja, das fotografias, do amor. E nem sempre amamos Ílhavo. E sei porquê. Ainda há narizes empinados, ainda há senhores doutores, ainda há supostos senadores que só o são nas suas cabecinhas.

O Ílhavo conservador está a deixar de o ser, devagar é certo, e ainda há muito caminho a percorrer, mas lá chegaremos. Há-de chegar o dia, como aquele 13 de julho, em que vamos amar Ílhavo incondicionalmente.

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