Editorial 15 de Março de 2025
Esta quinzena, o difícil será escolher, do rol de acontecimentos que nos vêm atropelando, um tema para este editorial. Da indecência de Trump face à dignidade de Zelensky, da queda do governo e de um cada vez mais cansativo excesso de linguagem “tática” na comunicação social, nas movimentações politico-midiáticas da pré-campanha local, do carnaval, das novas medidas para a comunicação social? O cardápio é extenso mas sobre cada um destes temas, ou já tudo se esgotou ou a função obriga-me a um certo distanciamento crítico.
Sendo assim, recorrerei ao que recorro sempre, em caso de dúvida: ao que está mais perto. Pode parecer pequeno o facto de se anunciar este mês o encerramento físico da livraria Xylocopa Books, aqui no centro de Ílhavo, mas é um daqueles acontecimentos que sublinham, tristemente, o caminho que estamos a percorrer.
O caso não pede uma análise muito aprofundada, nem sequer pede uma análise. Os projetos têm a duração que se lhes permite, e não é isso que os mede, e não certamente neste caso. O que pode ajudar a medi-lo será, creio eu, a imensa dose de coragem (e talvez ingenuidade, uma das qualidades mais nobres que se podem encontrar no tempo que vivemos), que terá sido necessária para o levar a cabo.
Mas diz algma coisa sobre nós, os interessados, os leitores, os constantes reivindicadores de espaços de pensamento, encontro e cultura, não termos sabido acarinhar de outra forma esta livraria, É a comunidade que falha quando estes projetos terminam. É o público, desonerado da sua responsabilidade de se bater pelo mundo em que quer viver, que falha quando tudo à sua volta se degrada.
À Ana, e à Xylocopa, os meus parabéns pela coragem, pela ingenuidade, e pela aventura. Foram mais dois anos subtraídos às trevas.