Esta semana regressou ao debate público o momento crítico que vive a comunicação social e o jornalismo. Questiono-me sempre se interessa ao leitor ser, mais uma vez, confrontado com uma discussão que parece apenas dizer respeito aos próprios jornais, à sua orgânica e à sua sobrevivência. Talvez esta hesitação esteja, na verdade, na raíz de boa parte dos problemas desta conversa. Uma conversa para a qual o leitor raramente é chamado, sendo-lhe destinado um lugar de espectador, de “consumidor”, desresponsabilizado de qualquer papel ativo e crítico.

O enquadramento desta crise como um problema setorial dos jornais e dos jornalistas, de natureza económica, é compreensível, legítimo e, até certo ponto, necessário: falamos de salários, de vidas de pessoas. Mas se não passar disso, dois resultados são certos: mais ninguém terá realmente interesse em resolvê-la a não ser os próprios jornalistas e donos de jornais e as soluções encontradas estarão destinadas ao fracasso, uma vez que partirão de uma análise limitada à contabilidade dos proveitos e despesas dos jornais.

A verdade é que, demos-lhe as voltas que quisermos, o jornalismo passa pelos problemas que  por um motivo apenas: a sociedade não lhe atribui o valor que nós, leitores, lhe damos. E este é um problema nosso, caro leitor ou leitora, não é de mais ninguém – nem do governo, nem das redes sociais nem da inteligência artificial. E esse problema é de uma ordem muito prosaica: quanto é que realmente importa para as nossas vidas este exercício que aqui fazemos?

Julgo que só quando cada um de nós responder com muita honestidade a esta questão (que vale, de resto, para todas as atividades culturais), é que nos poderemos posicionar nesta conversa.

Quanto às medidas apresentadas, em trinta pontos dos quais a maioria, de tão vagos que são, não permitem uma avaliação à partida, contemplam alguns pontos significativos. Os mais badalados são os relativos à RTP, mas um, particularmente importante para a imprensa escrita e em particular para a local e regional, tem sido pouco referido: a duplicação do chamado “porte pago”. A duplicação deste apoio, que permite um desconto nos encargos com o envio de jornais por correio, terá um impacto significativo e é uma reivindicação antiga.

A reação mediática, que se preocupou mais com as impreparadas declarações do primeiro-ministro na sua apresentação do que com o conteúdo das medidas em si, acabou por deixar passar o escrutínio que lhes seria devido. É que para no futuro cobrarmos o cumprimento destas promessas, é necessário que nos lembremos delas.

Da nossa parte, fica aqui o lembrete, para aqui regressarmos mais tarde – ou para celebrar o seu cumprimento ou para acionar a sua cobrança. Não deixaremos de dar nota, aos nossos leitores, destes desenvolvimentos, que são o garante das condições para este nosso encontro quinzenal.

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