Poema e ilustração de Tiago Mendonça Oliveira
Falo ao ouvido aberto
Da verdade e desamor
Do coração desperto
Da alegria de sentir dor
Falo do céu que não é meu
E da terra que também não
Falo daquilo que já foi teu
E da chuva que beija o chão
Falo a rir e a chorar
Falo manso ou a gritar
Com razão ou já sem ela
Mas sem sede de calar
Falo do Homem e dos bichos
Do que voa e que rasteja
Falo do sol pela manhã
E se é lindo, que assim seja
Falo da brisa que já não sopra
Por não ser dela este tempo
Falo das coisas que já imóveis
Me fazem arder por dentro
Falo do dia que já foi noite
E do louco que já pensou
Falo do sábio que ainda pensa
E do fogo que apagou
Falo do pai e mãe também
Falo do filho que daí vem
Falo daquele que já casou
E do outro que nunca amou
Falo hoje e doravante
Falo da vida e da morte
Falo e nunca calarei
Por ser essa a minha sorte.