No mês de junho, um pouco por todo o país, multiplicam-se festas e arraiais em nome de Santo António, São João ou São Pedro. Pelos santos populares, cada terra tem a sua tradição, mas há elementos que, independentemente das geografias, parece que estão sempre presentes: a reunião de pessoas nas ruas, o brilho dos balões iluminados, a alegria da música e do festão colorido, o odor fresco do manjerico e o paladar delicioso da sardinha.
Por cá, ao longo dos últimos anos, o ponto alto dos festejos tem sido as marchas sanjoaninas. Desde que, em 1992, a Câmara Municipal de Ílhavo tomou a iniciativa de incentivar o tecido associativo a envolver-se na conceção e apresentação de marchas populares em vários locais do concelho, todos os anos têm sido apresentadas, por alturas do São João, pelo menos, quatro marchas. Foi assim até ao ano passado.
Em 2019, no entanto, com a desistência de uma das associações e a “dificuldade em angariar novos elementos” e “pessoas que colaborem na confeção das roupas, dos arcos e dos adereços” sentida por outra das participantes, a Câmara Municipal optou
por cancelar as marchas sanjoaninas “por não estarem reunidas as condições mínimas e não existir tempo suficiente para pro- ceder a novos contactos”. Em comunicado, a autarquia ilhavense diz acreditar que “um período de reflexão e reestruturação do conceito da iniciativa permitirá novas abordagens que valorizem e dinamizem o evento”.
Uma das associações mais assíduas nas marchas sanjoaninas promovidas pelo município de Ílhavo é o Grupo de Jovens “A Tulha”, da Gafanha de Aquém. Rafael Vaz, presidente da associação juvenil, confessa que “aquilo que aconteceu este ano [cancelamento das mar- chas] entristeceu-nos”. É que, na Gafanha de Aquém, a marcha realiza-se ininterruptamente desde 1989 e é “uma atividade muito acarinhada”. Com centenas de pessoas (jovens e não só) ligadas ao projeto ao longo dos anos, esta é, segundo A Tulha, “a iniciativa com maior envolvimento da comunidade” seja na preparação das roupas, dos arcos ou como marchantes. “A marcha de São João faz parte do ADN d’A Tulha e da comunidade da Gafanha de Aquém”, acrescenta Rafael Vaz.
Assim, com “grande pressão dos associados e da comunidade”, a direção do grupo de jovens encarou como “um dever e até mesmo uma obrigação” a garantia de que este laço não se desfaz, que não há quebras ou interrupções que possam desiludir ou desmotivar a comu- nidade. A Tulha vai “investir fundos próprios e recorrer ao apoio do comércio local” para conceber, preparar e apresentar uma marcha – a 31ª consecutiva – nas festas populares de São João.
Rafael Vaz alerta, no entanto, que, este ano, “A Tulha faz a marcha em condições diferentes”, uma vez que deixa de poder contar com a verba que a Câmara Municipal canalizava para as associações pela criação das marchas. Apesar de não dispor desse apoio, A Tulha entendeu que, “com elevado esforço, rigor e contenção de custos”, tinha condições para avançar, tendo sempre em vista o compromisso de, em 2020, voltar a trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal e as restantes associações de forma a conseguir retomar a organização conjunta das marchas sanjoaninas.
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