Em maré de romarias setembrinas, segue-se no último fim-de-semana de setembro (28 a 30), a festa da Nossa Senhora da Saúde, na Costa Nova. É uma pena que aquela que já foi, em tempos, a segunda maior romaria lagunar a seguir ao S. Paio, presentemente, não passe da festa religiosa, procissão, eucaristia dominical e pouco mais.

Se fosse possível regredir no tempo, por uns dias, desejaria assistir a uma romaria dos anos sessenta, com artística armação na Avenida Marginal e nos caminhos conducentes à Capelinha. A montagem da armação em altos escadotes marcava o início da festa. Seguia-se a chegada das primeiras tendas. Mas quando os primeiros moliceiros vinham do norte e do sul da ria, os norteiros e os matolas e atracavam mesmo aqui pertinho de mim, então a festividade estava próxima.

Recordo com saudade a chegada das barracas das cutelarias de Guimarães, os chapelinhos de papel de vários feitios e cores, os brinquedos toscos infantis de lata e de madeira, o café «de apito», a doçaria tradicional da Ti Rosa Caçoa, com os seus suspiros melosos e açucarados e os bolinhos brancos de gema.

Ao lado, a Ti Adelaide Ronca com as flores das festas, de papel, com quadra a gosto, e as coloridas e vistosas ventarolas. O Sr. Quintino Teles com os seus pratos típicos, em cerâmica relevada, com castanhas e sardinhas assadas, ovos estrelados, que até apetecia degustar, etc. Ainda os ferros forjados, as barracas das loiças de Barcelos e de alguns atoalhados e «lingerie», bem como, os homens dos guarda-chuvas, compunham o ramalhete.

E os vistosos e animados coretos com a banda a tocar! Não faltava a Vida de Cristo, em movimento, descrita em voz roufenha, rouca, do publicitador, tornada ensurdecedora pela ampliação conferida pelas cornetas do altifalante, que tentavam sobrepor-se ao anúncio da casa dos espelhos, do carrocel, dos carrinhos elétricos ou cadeirinhas voadoras.

Com muita gente, com muito barulho, acabou por se tornar impossível a festa na frente/ria, incluindo a própria procissão, que não era recebida com o respeito devido. Há uns anos largos, toca de mudar a festa para a Avenida do Mar. Ainda pior!!! Chegou-se a um exagero e a uma falta de sanidade, com que alguns moradores não conviviam muito bem, quase impossibilitados de entrar em suas casas. Já não eram vendas típicas e, por vezes, ingénuas, mas uma autêntica feira, onde chegou a intervir a ASAE.

E hoje, o que é que temos? A procissão, após a missa festiva e pouco mais.No entanto, na frente-ria, já voltaram a aparecer as doçarias festivas diversas, muito apelativas, os frutos secos muito apetecíveis, e algumas barracas de brinquedos e quinquilharia.

Assim, está bem – nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O domingo da festa, pelas 23h30, tem encerrado com um fogo de artifício variado e de qualidade.

Ainda se vai passar à Costa Nova a Senhora da Saúde, quanto mais não seja, para saborear, entre amigos, a chanfana ou o leitão assado, o que origina uma prévia «procissão de leitões».

O momento alto que vivo na festa é a passagem da procissão na Calçada Arrais Ançã, frente à minha varanda, com colgadura de damasco amarelada, em que reúno amigos para a verem passar, num misto de satisfação, convívio, colorido, adorno empenhado dos andores e muita fé.

Andor de Nossa Senhora da Saúde entre palmeiras, de passagem na Calçada Arrais Ançã
(Foto: Maria Emília Prado e Castro)

Outros aspetos haveria mais a enumerar – irmandades, fanfarra, grupo de escuteiros, pároco da Costa Nova, acólitos e crentes acompanhantes, cumpridores de promessas. Nem gosto, sequer, de ver a casa fechada, nesse dia. Tradição…apesar de já não ser o que era. É a que temos. Está a tomar uma posição sensata, sem exageros. É para respeitar e tentar transmitir.

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