Daniela Dias nasceu na praia da Barra e foi lá que viveu até ir para o Porto para estudar Direito. No entanto, no terceiro ano da licenciatura, percebeu que, naquela fase da sua vida, não era a advocacia que a satisfazia. Apaixonou-se pelo crossfit, pelos desportos de combate e pelas corridas de obstáculos e deixou tudo para seguir essas paixões.

Neste momento, Daniela estuda desporto em Guimarães e faz parte da equipa OCR Norte com a qual participa em várias provas de corridas de obstáculos.

Desportista desde sempre

Daniela vem de uma família de desportistas. A mãe foi nadadora e chegou a competir internacionalmente, o padrinho é treinador de artes marciais e tem família no Canadá que é adepta do jiu-jitsu. Como não podia deixar de ser, Daniela começou a praticar desporto muito cedo. Passou por uma escola de ballet, mas decidiu que, “para uma criança que cresce a imitar os lutadores wrestling na caixa de areia da escola, o ballet não era o ideal”; na natação, chegou rapidamente aos escalões de pré-competição, mas preferiu deixar as piscinas para seguir as pisadas do padrinho. Praticou karaté durante um ano, mas evoluiu tão depressa que, rapidamente, deixou de ter no grupo onde treinava adversários que a fizessem evoluir a um ritmo que a motivasse. Da Praia da Barra passou para o Bairro de Santiago, em Aveiro, onde começou a praticar kickboxing (desporto de combate com base em socos e pontapés) e muay thai (boxe tailandês).

Até que chega à adolescência e, aí, a revolução é ainda maior. Daniela deixa completamente o desporto aos 14 anos. Só havia de voltar a praticar uma modalidade dez anos depois, isto é, há cerca de um ano.

Curiosamente, na escola, Daniela nunca gostou de Educação Física. “Na maior parte das vezes, preferia inventar uma desculpa para não fazer as aulas e ficava, descansada, a ler um livro”. Para quem conhece a atleta que Daniela é hoje, talvez seja difícil acreditar, mas a verdade é que a jovem acabaria mesmo por reprovar a Educação Física, vendo-se obrigada a fazer a disciplina por exame. “Eu nunca gostei de desportos coletivos e a Educação Física na escola resume-se a isso. Adoro ver um bom jogo de futebol, mas não gosto de praticar. No Desporto, não gosto de precisar de ninguém, nem que ninguém precise de mim. Talvez seja um bocado individualista”.

Em 2018, Daniela estava a passar uma fase menos boa da sua vida e pensou que “a melhor maneira de eu me sentir melhor é voltar ao desporto”. Desta vez, apostou no crossfit e cedo a paixão pelo desporto se reacendeu. Ao fim de uma semana de aulas, passou logo para a competição. “Os ganhos físicos foram muitos, mas o meu corpo não estava habituado e acabou por ceder ao esforço. Parti duas costelas”.

Daniela Dias é uma perfecionista e também não esconde boas doses de obsessão e impaciência. Sempre que se propõe a praticar uma modalidade nova, dedica-se de corpo e alma e acaba sempre por ter uma evolução muito rápida. Para Daniela, ‘desporto’ tem de ser sinónimo de ‘desafio’ e, quando uma modalidade deixa de ser assim, o melhor é “partir para outra”. Foi o que aconteceu.

É à boleia do crossfit que o jiu-jitsu aparece na vida de Daniela. “Um dos donos da ‘box’ de crossfit que eu frequentava no Porto (cidade na qual, nessa altura, Daniela estudava Direito) dava aulas de jiu-jitsu e, certa vez, convida-me a experimentar”. O jiu-jitsu (“arte da suavidade”, em japonês) é uma arte marcial que utiliza diferentes técnicas e golpes corporais com o objetivo de imobilizar o oponente.

“A princípio não me imaginava numa arte marcial em que não houvesse socos e pontapés, mas acabei por experimentar”. Uma vez mais, apaixonou-se pela nova modalidade e, uma vez mais, a evolução foi muito rápida. A equipa com que treinava – Focus Jiu-Jitsu – fez questão de lhe oferecer um quimono e já havia quem acreditasse que pudesse ser campeã nacional nesta modalidade. Mas apareceu a OCR.

A OCR – Obstacle Course Racing ou, simplesmente, corrida de obstáculos – é uma modalidade inspirada no treino militar que consiste num percurso (de extensão variável consoante o escalão) de corrida em que os atletas têm de ultrapassar obstáculos. Isso pode implicar ter de trepar paredes, carregar objetos pesados, atravessar rios de lama, rastejar sobre arame farpado ou saltar através de fogo. O OCR testa a resistência física, a força, a velocidade, a coordenação motora, mas também a capacidade psicológica e a coragem dos praticantes.

A primeira prova em que Daniela participou foi a BioRace Challenge, em Estarreja e, a partir daí, nunca mais parou.

“Um dos principais desafios da OCR é a imprevisibilidade – o facto de não saberes qual o próximo obstáculo que te vai aparecer. Esse é o fator que mais me atrai”, diz Daniela Dias.

Seja a nível competitivo, seja só por diversão, este tipo de corridas têm atraído cada vez mais adeptos. No entanto, na opinião de Daniela, “para que a modalidade possa crescer e ter ainda mais praticantes, tem de se federar”. A federação da OCR “ia gerar apoios que, neste momento, não existem”, assim como “possibilitar o aparecimento de clubes organizados e trazer melhores condições aos atletas”, acrescenta.

“Expectativa e entusiasmo” para o mundial

De pódio em pódio, Daniela acabou por conseguir apurar-se para o OCR World Championship – o campeonato do mundo de corrida de obstáculos -, que será disputado em Londres, no Reino Unido, de 11 a 13 de outubro.
Daniela não esconde o entusiasmo quanto a esta participação. “Imagina que te dão a oportunidade de jogar futebol com o Cristiano Ronaldo… É mais ou menos isso que vai acontecer, vou estar entre os melhores do mundo, os atletas que tenho como referência”. Apesar de não haver expectativas quanto a subidas ao pódio, Daniela assume os objetivos de “dignificar a bandeira que vou representar” e “ir com espírito de quem quer aprender”. O campeonato do mundo reúne a elite internacional no que a esta modalidade diz respeito, assim como, alguns dos mais desafiantes obstáculos.

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