Ano após ano, o segundo fim-de-semana de setembro fica sempre reservado para a festa em honra de Nossa Senhora da Encarnação. Celebra-se a fé na padroeira, embelezam-se as ruas para passar a procissão, familiares e amigos encontram-se em almoços e convívios e vivem-se dias de grande alegria para as gentes da comunidade da Gafanha da Encarnação.
Este ano, a festa atraiu “milhares de pessoas”, um número “bastante superior aos anos anteriores”, garante José Carapelho, juíz da festa de 2019.
O programa para estes dias previa várias novidades, propostas diversificadas e momentos que marcavam pela inovação e, principalmente, pelo cultivo de uma identidade comunitária. Uma das novidades foi a exibição, projetada, em tempo real, na fachada da igreja matriz, de imagens religiosas e fotografias tiradas aos participantes ao longo da festa. Dada a sua beleza e o impacto visual que criavam, “estas projeções de luz foram o fogo que não pudemos atirar”, admite José Carapelho.
As condições meteorológicas que se fizeram sentir em todo o distrito e o alerta vermelho por “perigo extremo de incêndio rural e florestal” levaram à proibição de lançamento de qualquer material pirotécnico, proibição essa que acabou por se estender a todos os dias da festa da Gafanha da Encarnação. Ou seja, não se realizaram as habituais salvas de alvorada, não houve fogo nas arruadas nem na chegada da procissão e os espetáculos noturnos de fogo de artifício não se puderam realizar.
José tem 42 anos e, à exceção da edição deste ano, não tem memória de outra festa naquela freguesia em que não tivesse ouvido foguetes. Ainda assim, diz que fez “o que tinha se ser feito”. “A festa também se faz sem foguetes e, como cidadãos conscientes, cumprimos a lei”, pode ler-se na página da Mordomia no Facebook. Quanto à comunidade, “mostrou-se bastante compreensiva” e, para Carapelho, o papel da comunicação social terá sido determinante. “As pessoas estavam bem informadas, sabiam dos perigos e, quando vinham falar connosco já não era para nos questionar se ia ou não haver fogo, mas para lamentar o facto de não poder haver”.
Ao saber desta interdição, a mordomia reorganizou o programa, evitando “tempos mortos”. Os períodos para os quais estavam inicialmente previstos lançamentos de foguetes ou espetáculos de pirotecnia, foram ocupados com outras propostas.
No sábado, dia 7, a Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação, um dos parceiros da comissão de festas e da paróquia na organização da festa, associou-se ainda mais aos festejos, e inaugurou a reposição do antigo cruzeiro no Largo onde, originalmente, havia sido erguido.
O cruzeiro tem uma componente simbólica muito forte para a comunidade e, “principalmente as pessoas mais velhas, há muito que pediam à Junta para que o cruzeiro voltasse ao (seu) Largo”. E assim foi. A Junta de Freguesia restaurou o monumento em pedra calcária e, em momento solene “histórico” para a comunidade, inaugurou-o já na sua nova localização, no gaveto da rua Professor Francisco Corujo com a Rua Padre António Diogo. “Os cruzeiros são símbolos do religioso, mas, nestas pequenas aldeias e vilas como a Gafanha da Encarnação, marcam também o centro da localidade”, explica José Carapelho. Já Augusto Rocha, presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação havia dito sobre o memorial que “transporta-nos para as raízes da nossa terra e das nossas gentes e engrandece o nosso sentimento de pertença”.
No domingo, houve missa e procissão pelas ruas da freguesia e, na segunda-feira, o “fantástico concerto” de José Cid. Recentemente galardoado com um Grammy Latino por Excelência Musical, Cid deu um concerto de duas horas onde tocou todos os grandes êxitos. A organização, que havia convidado o artista muito antes de se saber que tinha venceria este prémio internacional, admite que o galardão “pode ter suscitado a curiosidade de mais gente e levado à lotação do recinto”.
Finda a festa, o ramo – símbolo da passagem de testemunho de uma mordomia para a mordomia do ano seguinte – foi entregue e já há comissão para organizar as festas de 2020.