AFONSO RÉ LAU

É uma das obras de maior envergadura a que a região assistiu nos últimos tempos – quer pelo montante investido (cerca de 17,5 milhões de euros), quer pelas suas especificidades técnicas – e é especialmente sentida no município de Ílhavo. A empreitada de desassoreamento da Ria de Aveiro está no terreno há já vários meses – desde o início do verão – e já chegou a dois pontos do concelho (Canal de Ílhavo/Rio Boco e Canal de Mira).

Tudo parece estar a decorrer dentro da normalidade e, nestes primeiros meses de obra, já foram dragados cerca de 100 mil metros cúbicos de sedimentos. O balanço foi avançado pela Polis Litoral Ria de Aveiro, entidade gestora da obra, numa recente visita ao terreno.

Efetivamente, numa só semana, de 21 a 25 de outubro, foram promovidas duas deslocações à obra. Uma promovida pela própria Polis e outra dinamizada pela Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos e a Fábrica Centro de Ciência Viva de Aveiro. Esta última, decorreu na tarde de 24 de outubro, mobilizando várias dezenas de participantes e tendo sido seguida de um momento de debate.

Uma sessão pública que contou com a participação de Luís Bandeira, técnico da Polis, e de João Miguel Dias, investigador da Universidade de Aveiro, que defende que são as maiores amplitudes de marés as grandes responsáveis pela perceção do assoreamento – o especialista fala em “assoreamento aparente”.

Antes do debate – que juntou, na assistência, representantes do movimento MARIA e da Associação Náutica da Gafanha da Nazaré -, coube a Carlos Apolo Flores, do consórcio liderado pela Etermar, falar sobre os trabalhos em curso. Neste momento, estão quatro dragas a operar nos canais principais – canal de Ovar, no acesso ao Cais da Bestida; canal da Murtosa, a poente da praia do Bico; canal de Mira, entre a ponte da Barra; e a Ponte da Vagueira e rio Boco/canal de Ílhavo, a sul da Ponte de Água Fria. Em breve, a operação será reforçada com uma quinta draga, segundo garantiu Carlos Apolo Flores.

Para trás, fica o trabalho já realizado no canal de Ílhavo (a norte da Ponte Juncal Ancho) e no canal de acesso ao Cais da Bestida, com trabalhos sujeitos “à dinâmica da ria, com correntes muito fortes”, referiu Carlos Apolo Flores. A altura dos sedimentos também tem dificultado a dragagem, “levando a que muitos troços tenham de ser feitos à maré”, acrescentou, notando que esta condicionante só vem comprovar que “a ria está, de facto, assoreada”.

Seis dezenas de profissionais envolvidos

A obra envolve, neste momento, cerca de 60 profissionais e, segundo garante a Polis Litoral Ria de Aveiro, está a ser acompanhada em permanência por uma equipa técnica, onde incluem vários arqueólogos. Importa lembrar que, na sequência desse acompanhamento já foram descobertos vestígios de uma mancha de ocupação ou possível acampamento do neolítico a cerca de dois metros de profundidade na Ria de Aveiro, em Ílhavo.

Esta empreitada, que se estende ao longo de 95 quilómetros, visa garantir condições de navegabilidade nos canais da ria, permitindo, também, o reforço de margens e motas em zonas baixas ameaçadas pelo avanço das águas e da deriva litoral, travando a erosão costeira. A obra tem um prazo de execução previsto de 15 meses e é financiada pelo POSEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, com uma comparticipação de 75%, sendo a contrapartida nacional assegurada pelo capital social proveniente do Estado e pelas Águas do Centro Litoral, no que respeita à estabilização das suas condutas.

Intervenção motiva encontro entre dirigentes do MARIA e da Polis

A intervenção em curso na laguna aveirense esteve também na origem de uma reunião entre os representantes do MARIA – Movimento de Amigos da Ria de Aveiro – e os responsáveis pela sociedade Polis Litoral Ria de Aveiro. Neste encontro, os dirigentes do MARIA tiveram a oportunidade de transmitir a sua visão sobre alguns dos problemas que afetam a laguna, “tendo dado especial relevo à necessidade de a obra de desassoreamento em curso poder vir a ter um complemento que permita desobstruir as marinas e ancoradouros da náutica de recreio e da pesca profissional”.

“Por parte da Polis, compreensão para estas pretensões é a palavra que se ajusta à sua visão acerca do assunto, que, no entanto, cai fora do âmbito daquelas que são as suas atuais responsabilidades no processo de desassoreamento em curso e cujo complemento futuro não está para já equacionado, embora não esteja também de todo excluído”, enquadram os responsáveis do MARIA.

Participaram no encontro, em representação da sociedade Polis Litoral da Ria de Aveiro, Diana Gaspar e José Pimenta Machado e, em nome do MARIA, Humberto Rocha, Paulo Ramalheira, Pedro Martins Pereira e Zélu Martins Pereira.

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