AFONSO RÉ LAU

No dia 7 de dezembro, reuniram-se no Mercado Municipal mais de 170 bigodes de toda a região – alguns deles, dos melhores bigodes do país. Foi a 29ª edição do Convívio dos Bigodes de Ílhavo. Nesta reunião – que é também um concurso – José Simão, de Arcozelo da Serra (Gouveia), “deu um bigode” a todos os outros concorrentes e acabou mesmo por levar para casa o troféu do melhor bigode do encontro.

O bigode faz parte da cultura popular há mais de mil anos. A palavra ‘bigode’, acredita-se, deriva do latim bigoth, que quer dizer ‘visigodo’, um povo bárbaro que se mudou para a Península Ibérica no final do Império Romano e que era conhecido pelos seus fartos bigodes. Ao longo da História, o bigode já foi proibido e obrigatório, já foi tido como símbolo machista de virilidade e já serviu de marca para a comunidade homossexual dos anos de 1970. Esta versatilidade abstrata e social do bigode só compete mesmo com a sua versatilidade concreta. Há bigodes para todos os gostos! E não há quem não reconheça alguns dos mais famosos. Fala-se de ‘um bigode à Chalana’, ‘um bigode à Hitler’ ou ‘um bigode à Dalí” e todos sabem do que se está a falar. Mas, se há bigodes neste convívio que se inspiram em figuras históricas, do cinema, das artes ou até do futebol, há outros que não querem imitar ninguém. É o caso de Carlos: “Não me inspiro em nenhuma figura ilustre. Inspiro-me em mim próprio e no meu pai que sempre conheci com bigode”.

Um bigode ‘à Asterix’ já é imagem de marca do ilhavense Eduardo Labrincha. Foi quando partiu para a Guiné, em 1971, para combater na Guerra do Ultramar, que Labrincha começou a deixar crescer o bigode. Desde aí, nunca mais o cortou. “Cheguei a ter barba, mas acabava sempre por cortá-la. O bigode é que ficou sempre”. Por várias vezes, em tom de brincadeira, a esposa promete que lho corta, mas a verdade é que, quase 50 anos depois, Labrincha continua a usar um orgulhoso e vasto bigode.

O bigode de Carlos, pelo contrário, é muito mais recente. “Tem dois anos, mas podia ter muitos mais”. É que, precisamente há cerca de dois anos, Carlos perdeu uma aposta com um amigo e, homem de palavra, teve de cortar o bigode. “Não volto a cair numa dessas”, garante, bem-disposto.

O barbeiro Nuno Moreira, com cabeleireiro aberto no largo do Mercado Municipal de Ílhavo, veio a este encontro para ajudar a aparar, pentear ou fazer tratamentos de última hora nos bigodes dos convivas. A experiência de Nuno dita que “a maior parte dos homens que têm bigode há vários anos tratam de o cuidar e aparar autonomamente e nem sequer gostam que ninguém – nem mesmo os profissionais – lhes toquem”. Neste convívio, mesmo os mais céticos abrem uma exceção. E é enquanto apara mais um bigode que Nuno explica que “aquilo que um bom bigode mais requer são os cuidados diários de higiene”. No entanto, acrescenta, “hidratar a pele com óleo e colocar uma cera para o fixar” também são boas práticas.

Labrincha confessa não ter nenhum cuidado especial com o seu bigode. “Há malta que leva isto com muito rigor. Eu gosto de usar bigode, mas não tenho grandes cuidados, não sou muito perfecionista. Às vezes até está mais comprido de um lado do que do outro”, admite. O facto de usar bigode desde muito jovem também ajuda.

Por falar em jovens: não se veem muitos neste Convívio dos Bigodes de Ílhavo. “Ao contrário do que acontecia há 40 ou 50 anos, o bigode já não é uma tendência entre os jovens. Hoje em dia, o que está na moda são as barbas”, assegura Nuno Moreira.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here