Em época festiva, ninguém fica indiferente ao número 59 da Rua de São Nicolau, na Gafanha da Nazaré. Com mais de 20 mil lâmpadas a ornamentá-la, aquela é, muito provavelmente, a casa mais iluminada do Município de Ílhavo. Toda a instalação é minuciosamente montada por Herlander Loureiro, de 62 anos, ao longo de duas semanas. Durante essa fase de montagens e testes, é raro o dia (ou a noite) em que não o abordam à porta de casa para perguntar quando acende as luzes.
A cada ano, em meados de dezembro, o momento em que, finalmente, as luzes se ligam pela primeira vez já se tornou um evento para a vizinhança. Há luzes amarelas, outras coloridas, estrelas, sinos, bonecos de neve ou árvores de natal luminosas, um trenó de luz puxado por renas compostas por pequenas lâmpadas e até um presépio iluminado.
A instalação é complexa, mas Herlander prefere tratar de tudo sozinho: “Ninguém mexe em nada, ninguém me ajuda. Só iam atrapalhar… São milhares de lâmpadas, centenas de metros de cabo e dezenas de ligações. É preciso andar sempre muito concentrado”.
Herlander trabalha com séries de cinquenta lâmpadas. “Quando uma funde, as outras quarenta e nove apagam. Tenho, então, de tirar as cinquenta, experimentá-las uma a uma e voltar a montar tudo. É uma trabalheira!”. Um verdadeiro teste à paciência e à persistência, acrescentamos. No ano passado, teve de substituir cerca de quatrocentas lâmpadas; em 2017, tinha substituído mais de setecentas. Só este ano” – conta, apontando para uma caixa cheia de pequenas lâmpadas – “já estão aqui trezentas e vinte [lâmpadas avariadas]”.
Apesar de grande entusiasta das luzes, nunca foi eletricista. Foi a curiosidade e o gosto por esta área que lhe despertaram interesse e o motivaram a abraçar uma empreitada desta grandeza.
Herlander faz isto para si, mas, principalmente, para os outros e não esconde o receio de que, a médio prazo, as pessoas deixem de se interessar. “A iluminação é sempre muito parecida. A casa tem uma estética interessante, mas é limitada. Não há muito mais que eu possa fazer, tirando um ou outro pormenor novo a cada ano”. O que é certo é que as pessoas continuam a aparecer. “Há dias em que chegam a fazer fila aqui à porta”. No ano passado, lembra “veio aí um autocarro cheio só para ver as luzes”.
“É o meu presente para a comunidade”
Para os meses de dezembro, Herlander pede sempre um reforço de intensidade na corrente elétrica. “Passo de 20 para 30 amperes. E, mesmo assim, é à risca. Quando ligo a iluminação no exterior, tenho de limitar ao máximo o que ligo lá dentro. Não posso ligar o forno ou o micro-ondas, por exemplo, ou o contador vai logo abaixo”.
Herlander estima que esta instalação natalícia signifique um aumento de cerca de trezentos euros na conta mensal de eletricidade, mas o prazer que lhe dá poder oferecer este espetáculo aos amigos, aos vizinhos e a todos quantos passam pela sua rua nestas semanas é impagável.
Felizmente, não gasta quase nada com as lâmpadas, que lhe chegam diretamente dos Estados Unidos. “Os meus cunhados são como irmãos para mim. Eles sabem que eu gosto muito de decorar a casa pelo natal, por isso, todos os anos, enviam mais luzes. Ou seja, as lâmpadas acabam por ser de borla para mim”.
Ainda assim, os visitantes apercebem-se que montar tudo aquilo representa um custo elevado e muitos não se coíbem a contribuir para o projeto. “Há crianças que pedem aos pais para deixar uma moedinha na caixa do correio. Eu digo sempre para não o fazerem. Felizmente, não preciso. Mas as crianças insistem com os pais para deixarem um contributo. É muito curioso”.
Crianças – é para elas, e muito por elas, que Herlander continua a dedicar-se a este projeto. “Todos os dias, ao fim da tarde, quando saem da escola [o Centro Escolar Santa Maria Manuela é mesmo ao virar da esquina], as crianças pedem aos pais para passarem por aqui para ver as luzes”. Quando se fixam nas luzes, os olhares maravilhados dos mais pequenos refletem uma certa dose de magia. É o mais bonito do natal.
Um perfecionista atento
Herlander está sempre atento à sua instalação, pronto a detetar a necessidade de qualquer ajuste, uma falha técnica que precise de ser corrigida ou uma alteração estética que torne o conjunto mais apelativo. “Aquelas lâmpadas coloridas não ficam bem ali. Vou tirá-las”, comenta, enquanto nos ajuda a encontrar o melhor ângulo para uma fotografia.
Tudo começou com pouco mais de seis mil lâmpadas, todavia, este ano, o número já ultrapassa as 20 mil. A instalação ainda pode crescer mais? “Podia por mais… Tenho ali mais três mil lâmpadas. Mas pondo mais ficaria exagerado. Tudo isto tem uma estética e tem de ser agradável à vista”, explica Herlander.
Neste Natal, a “Casa das Luzinhas” da Gafanha da Nazaré é ponto de passagem obrigatório. As luzes acenderam, pela primeira vez, no dia 13 de dezembro, e Herlander Loureiro promete acendê-las todas as noites, das 18h às 23h, até ao dia 1 de janeiro.