Quando a São se casou com um homem do mar, tinha prometido a si própria que os filhos vindos das suas entranhas, nunca iriam ter a vida que os homens da sua família tiveram…, homens do mar.

Muito lá atrás no tempo, a lembrança da dor de sua mãe ao receber a notícia da morte do marido, seu pai, no dia a dia da sua vida não a conseguia apagar do coração.

O seu filho António estava na idade de ser chamado para o serviço militar e a São andava descansada pois o rapazola, tal como a mãe queria desde sempre, não tinha grande vontade de ir para o mar, o que ele gostava era de mecânica.

Naquele ano o coração da São ficou aliviado, o seu filho até era entendido em motores, no serviço militar iria ter uma posição boa e custaria menos a passar.

Nesse ano as notícias que chegavam todos os dias na rádio faziam prever que algo de muito mau iria acontecer, diziam que os mancebos teriam que ir para fora defender a Pátria… mas então e o seu menino, sim o filho que ela não queria nos perigos do mar!

Mais uma vez a São teve que por os pés ao caminho e tentar um outro rumo para o seu filho.

Senhor Jesus dos Navegantes, não queria o meu menino no mar e agora iam enviá-lo para um sitio desconhecido e de incertezas. Naquela noite ao abrigo da escuridão, com um xaile escuro pela cabeça e com os olhos vermelhos de tanto chorar, calcorreou a rua e cheia de coragem de mãe, bateu ao de leve na porta que ela pensou ser a salvação do seu António. Antes no mar que lá longe na guerra, no mar luta-se sabendo com quem, na guerra muitas das vezes luta-se sem saber com quem.

Ia ser difícil, já há uns meses que tinha entrado no serviço militar, o sair era quase impossível, a não ser por um motivo de força maior. Se alguém do mar precisasse dele na faina do bacalhau, no pensamento daquela mãe teria mais proteção. As gentes do mar protegem-se, ajudam-se e demais a mais são como família, não de sangue mas de trabalho, de avós para filhos e de filhos para netos.

Não te preocupes, eu preciso de um homem que perceba de mecânica de frio… Mas o António nem percebia nada do frio, mas se no mar iria ser preciso, iria perceber.

E agora como ir dizer à Rosa Maria a sua namorada há já alguns anos, que assim que o próximo barco fosse para a faina, teria que ir e que durante uns anos lá teria que andar para livrar à tropa.

O destino estava lá, os homens daquela família eram homens do mar, desde que a memória tivesse memórias, todos tinham ido ganhar o sustento e mais uma vez se fez o destino.

A Rosa Maria que nem sequer, olhar para um homem do mar olhava, apareceu-lhe um marinheiro pela proa.

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