Da minha janela
Vejo o Trump, o que se passa com a Hungria
falta paciência para a histeria
Vejo o velho do Restelo,
Arrepio-me
Que este vírus ainda se aloja no cerebelo
Da minha janela
Vejo a austeridade e a Lagarde,
Falta a feira.
Arrepio-me
Que este vírus ainda se aloja na carteira
Da minha janela vejo a morte
com solitária glória
Já ouço o sermão,
Arrepio-me
Que este vírus já se aloja no caixão
Da minha janela vejo curvas epidemiológicas
Vejo as curvas do Caramulo
Da minha janela vejo trabalho estoico
Sinto o fervor do ócio
Vejo o sol. Vejo crianças a nascer,
crianças a cantar
Arrepio-me
Que isto acaba de começar
Vejo o dia. Inicial, inteiro e limpo?
E vejo a ciência e a coerência
Vejo a força e a vontade
Vejo a competência
Vejo a alegria e as laranjas da minha tia
E vejo a comunhão e apertos de mão.
Arrepio-me
Que isto aloja-se no coração
E o buraco do ozono?
Vamos lá, antes que fique com sono.