Conversava há dias com uma jovem amiga sobre este ano 2020 tão marcante na vida de todos. Além de nos encontrarmos privados de convívios, casamentos, viagens, férias, espetáculos, viveu-se com o medo de contágios e das consequências que uma economia em recessão pode trazer. Empresas à beira da falência, o desemprego, a pobreza. E do alto da minha arrogância de quem, por já ter vivido muitos anos se considera bem conhecedora da vida, afirmava: “enfim, um ano para esquecer”. Mas a minha amiga, jovem marcada por um recente período de falta de saúde bem grave, dizia-me: “Para esquecer, não. Eu aprendi muito. Aprendi a valorizar as pequenas coisas que tenho, os amigos com quem agora não posso estar, a família que está sempre ali e eu nem notava. Aprendi que andar, falar, agir autonomamente é um bem enorme. Ter tudo o que queremos, não é nada perante a falta que nos faz, por exemplo, não poder sair de casa sozinha”.
Foi uma lição de vida que me fez olhar para as coisas não com os olhos de reparar no que falta, mas a dar valor ao que tenho. Os hospitais poderão trabalhar mal, mas, e se precisarmos e não os tivermos, e não houver vaga? E tantos outros pequenos “nadas” que nada valem, mas tanta falta fazem se não os tivermos!
Temos o direito de reclamar, de exigir um mundo melhor para todos, mas temos também o dever de prestar atenção às insignificâncias do dia a dia, ao que pode emprestar à vida o doce sabor de um pouco de felicidade.