Na varanda da minha casa passam andorinhas todas as manhãs, desde que o sol nasce. Acordo todos os fins de semana com o seu chilrear. Há uns anos começaram a aparecer outro tipo de andorinhas. Invulgares, diferentes. Pareciam tonificadas, gigantes e mais rápidas. Questionávamo-nos. Viemos, mais tarde, a descobrir que são andorinhões. Assemelham-se às andorinhas mas sem as suas cores vibrantes e de corpo mais esguio.
Apesar das suas semelhanças morfológicas e de nome, eles não são da mesma família. Os andorinhões não param quietos, passam a vida a voar. Comem, bebem e dormem em voo, ficam meses sem pousar. As andorinhas são mais preguiçosas e gostam de ir descansando com mais frequência.
De resto, têm de facto formas de vida idênticas, ambos são livres e fazem do céu o seu habitat. Quando se vêm sem condições, partem. Dependendo das estações, ora voam da Europa para a África , ora da África para a Europa. Migram para garantir disponibilidade de alimento. São livres de fronteiras, sem passaporte, sem bandeiras nem pedigree. Percorrem milhares e milhares de quilómetros entre continentes, em busca de uma vida melhor. Enchem-se de coragem e partem sem saber o que vão encontrar. Há uma certeza, são sempre bem recebidos, independentemente da sua origem, da sua cor, das suas particularidades. No céu não há muros nem arames farpados.
Mesmo com as diferenças de famílias, estruturas físicas ou comportamentos, dividem o céu em harmonia, voam com o mesmo objetivo, no mesmo céu e compreendem-se, sendo iguais nas suas diferenças.
Nenhum deles nasceu a saber voar, foram aprendendo. Para quem vê, o voo parece fácil, mas a verdade é que exige determinação e resiliência.
Os pássaros conseguiram perceber que liberdade não é voar apenas com os seus pares, é aceitar que cada um voe à sua maneira e com as suas características. Perceberam que o céu é grande o suficiente para todos, que não precisam de competir por ele.
Estas aves estão muito à frente. Talvez devêssemos olhar mais para cima, seguir o seu exemplo. Enquanto elas voam e usufruem, nós ainda debatemos quem tem direito a levantar voo. Nós, os racionais…
25 de abril, sempre.
Texto publicado no nº 1372 d’O Ilhavense, de 1 de maio de 2025.
Assine o jornal aqui.