“É para acordar!… são horas de arrear!” – dizia da porta do camarote e acendendo a luz o Ventoínha. O navio fundeado no mar da Palha era o S. Mamede e a hora da saída a meia noite. Eram quase duas e ainda se palhetava Tejo abaixo… Lisboa descaía por estibordo… e depois Oeiras, Cascais… e quando o Bugio por bombordo arreou piloto, deu-se o final de manobra… o destino era carregar “brancos” em Sines para as Lages… às quatro vinha-me render o quarto o Camolas, mais conhecido por “argolas”… não por rimar, mas porque como o apodo indica as quatro horas para ele eram às quatro e um quarto, quatro e meia e render depois da hora é argolada… naquele dia, mal o avistei no patim da recuperativa, galguei a golpes de dois as escadas, berrando alto: “argoleiro… ranhoso… agora descobre o que está feito!” disse mais uma coisas que levariam também argola no canto superior direito… e disparei em direcção à copa onde o Zé Inácio começava a atacar a primeira bifana das dez ou doze que num grande tacho, executava religiosamente, sempre aquela hora. Preparei a minha, com bastante molho… era delicioso aquele molho com aquela fome da madrugada, um copo de vinho da garrafa a estrear…e lá me acomodei refastelando-me num cadeirão, apreciando o Zé na voraz tarefa de dar a volta ao resto das bifanas e da garrafa… depois, para aí às cinco e tal quase seis… era sempre ele que me sacudia dizendo: “É para acordar… são horas de ir pró cavalo”…