Anabela Pequeno

 

Naquela semana, pairava na casa da Prazeres um misto de alegria e uma tristeza própria da época que se vivia! O seu homem, escorreito, tinha chegado de mais uma faina, também era a Semana Santa, era o preparar da Páscoa.

Nesse ano, finalmente tudo o que era para ser vivido dentro de casa, na igreja e na rua, iria ser em pleno.

A casa cheirava a limpo, o comer melhorado, a toalha de linho bordada na mesa e o serviço de família já estavam fora no louceiro. O carneiro estava encomendado, o folar era todos os anos por tradição, comprado na mesma padeira.

Como sempre pensado pela Prazeres, ia tudo correr como um rumo que se traça a mais uma faina, sim porque em terra a mulher do homem do mar era a “capitã”!

A Páscoa é a festa maior, é o ressuscitar de uma vida, de todas as vidas, depois de uma luta cheia de suor e lágrimas, tal e qual a vida de muitos que todos os dias lutam por uma vida melhor.

A Prazeres juntamente com a Fátima e a Rosa Maria, tinham nesse ano o maior dos gostos, enfeitar o altar-mor depois da quaresma, tudo estudado ao pormenor, os verdes e as flores plantadas e tratadas com tanto carinho e zelo, no canteiro de cada uma, para no dia da festa maior, não desfraldarem a expectativa e com uma boa dose de vaidade, fazerem um pouco de inveja a algumas e a outras! Elas sabiam com que linhas cosiam… é o que é em terras pequenas.

Mas…! Mas o mais gratificante para aquela família, é que o pai iria na tarde de Domingo de Páscoa acompanhar o padre de porta em porta nas ruas e becos, para tirar o folar. Cada mulher da casa atapetava com flores e ervas bem cheirosas o encaminhar à soleira da porta, abriam a serventia da sala, e na mesa o Senhor na Cruz, um pratinho com a melhor guloseima, uma garrafa de vinho do Porto e uns copinhos que reluziam tal e qual cristal de tão polidos que estavam, isto tudo por cima de um pano tricotado nas horas vagas aquando da viajem do seu homem no mar.

O fato do casamento, a camisa branca bem engomada e a gravata de um azul celestial estavam impecáveis e pousadas em cima da arca, na sala do Senhor.

Os sapatos engraxados…

Que garboso estava aquele homem do mar.

Bem-haja

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