As obras no Centro de Ílhavo continuam a dar que falar. Com o coração da cidade “fechado para obras”, as pessoas sentem os constrangimentos do acesso vedado ao Jardim Henriqueta Maia

O Ilhavense foi falar com os comerciantes que têm os negócios na zona das obras, por onde tem passado “muito pó e muita maquinaria” e cada vez menos clientes.

 O Quiosque Jardim, situado no meio do relvado, tem agora uma tabuleta a indicar que é ali, visto estar rodeado quase todo ele por cercas de aço que o escondem, à exceção de uma pequena entrada, junto à passadeira.

João Grilo, o seu proprietário há mais de 25 anos, todos os dias abre o quiosque às 6h da manhã e por ali fica até às 13h. Depois faz uma pausa para o almoço e troca de turno com a sua mulher, Dolores Oliveira, para poder almoçar e descansar um pouco, para depois voltar e lá ficar até ao final do dia, quando faz o fecho do negócio.

“Esta obra dividiu Ílhavo em duas cidades!” – diz-nos João Grilo. Não vê alguns clientes, antes habituais, desde maio e atribui a culpa às obras. “Deviam ter feito uma passagem pedonal para passarem as pessoas pelo meio das obras, nem que fosse em cascalho, para se poderem movimentar de um lado ao outro.”

Faz questão de frisar que não é contra obras na cidade, e até dá como exemplo as obras de requalificação do CIEMar e do Bairro dos Pescadores, com as quais concorda e acha que a valorizam. Quanto à obra do Jardim, queixa-se de falta de planeamento e organização, que se refletem em avultados prejuízos para os negócios em volta. “O Café Estádio já fechou, eu tive uma quebra de 40% e os meus vizinhos todos se queixam. Todos nós tivemos muito prejuízo.”

Do outro lado das obras, na Calçada Carlos Paião, vamos até ao Café Jardim falar com Márcio Pereira, seu proprietário há 4 anos. Queixa-se que foi informado pela Câmara que a obra iria ser feita por etapas, para minimizar os constrangimentos. Para seu espanto, numa questão de dias, foi tudo vedado “sem ter sido feita uma passagem de um lado ao outro do jardim”.

Márcio diz que nunca teve a casa com tão pouca afluência, queixando-se de uma quebra de 70% no volume de negócios. De momento, é funcionário único no estabelecimento, para não acarretar com o peso de mais ordenados e tentar manter o Café, que diz, estar por um fio: “Muitos destes negócios estão em risco de fechar. Não sei como estão os meus vizinhos, mas acredito que não estejam muito melhores que eu.”

Descemos a calçada, por entre a terra batida e algumas pedras, damos com Ângelo Nunes, proprietário do Chico Bar. Diz-nos que as obras afetam muito o seu dia a dia e que as pessoas, para além de não terem pleno acesso àquela área também não têm condições de usufruir do espaço com qualidade. Para Ângelo, nada está fácil: “Estas obras, juntamente com o vírus, são a combinação para rebentar com o negócio!”.

Mas Ângelo confessa-nos que concorda com as obras e até põe em causa se já não deveriam ter sido feitas há mais tempo. Acha que são benéficas para toda a gente e que, dentro do mal, quiçá esta nem tenha sido a pior altura para a maquinaria entrar pelo jardim, visto que já tudo está condicionado pelo corona vírus.

O proprietário do Chico Bar sente-se abandonado pelas instituições da cidade e relata a amargura de ver o seu negócio entrar em decadência: “Porque, se no final das obras, quando abrirem a calçada, estiverem os bares todos fechados por causa disto, vai ser muito triste.”

Até que chegamos ao Expresso do Oriente, já com a esplanada montada numa calçada recém assentada. Rafael Martins, 28 anos, é proprietário do Expresso há sensivelmente um ano. Conta-nos que têm sido tempos muito difíceis para o negócio. Sente que o movimento diminuiu muito e que não tem visto “caras novas”. Apesar de tudo, também refere a sorte que tem em ter uma boa clientela fixa, “os habituais vão fazendo a casa”. “Fechei agora 2 dias, por opção, enquanto estavam a assentar a calçada aqui à frente do Expresso, para os clientes não serem incomodados com as máquinas e com o barulho, mas eles garantiam na mesma passagem para o bar.”

Rafael concorda com as obras, mas também quer ver como ficarão. Concorda com a empreitada e acha que é uma boa iniciativa: “a ver se puxa malta nova para a cidade, se começamos a ver mais pessoal que não é de cá”.

As obras vão continuar, sendo a previsão da sua duração de um ano, com vista a terminar em maio de 2021.

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