Estas Letras faladas de hoje são meio esquisitas. Tive insónias, é verdade, mas isso não justifica as letras amargas que me acinzentam o dia. Vai celebrar-se o Dia do trabalhador que deveria abranger toda a gente, mas não. A esta hora da manhã já deve haver um grupo de homens e mulheres à porta de fábricas fechadas de uma hora para a outra, de empresas que se apressaram a acautelar os rendimentos em contas com sabor a bom chocolate e a relógios de topo de gama. Mas o que é que esta gente pensa que resolve logo pala manhã à porta do seu local de trabalho? Nada. Ficassem em casa a preparar o pequeno almoço da família, pois então… Se bem que o supermercado não vende sem dinheiro e a lojinha do bairro já não fia… Suponho que o Zé povinho de Bordalo Pinheiro já saiu das prateleiras acima do balcão e foi fazer “tomas” para outras paragens. Os familiares destes “à porta especados” também vivem com dificuldade que as reformas são curtas e, por tal, a ajuda não aparece. Mas a minha reforma é boa, dá para pagar as refeições. A água, a luz, os “tele-cines”, o Sport TV, por isso só tenho é que estar caladinha, sem fazer ondas, não vão as Finanças deste País cortar-me a pensão…
Logo vou à rua solidarizar-me com os trabalhadores. É o seu DIA! Será que irei encontrar os desempregados a cantar e a gritar vivas ao 1º de Maio? Será que aqueles que trabalham por salários minguados também lá estarão a dar “ vivas”? Mas vivas a quê? Se calhar o humor negro instalou-se em nós e nem me dei conta…
Ah, se fosse possível o trabalho casar com o capital numa relação de igual para igual! Conviverem sem barreiras, viverem lado a lado sem se pisarem, sem se acharem um mais do que o outro! É Utopia, já sei.
Oxalá esta noite durma bem, sem insónias e possa celebrar sem pensamentos oblíquos o Dia da Trabalhador!