Não me ocorrem o ano nem o mês, mas tenho a certeza, que foi na manhã de um domingo, com partida às nove e tal… dez… na Cabina de Cimo de Vila… a volta ao Caneco que aqui quero lembrar…

A bicicleta do Freitas era uma humber (acho que é assim que se escreve) preta, mudanças de cubo e dínamo kadomax… e como brilhava de polimento… todo o sol se via dela… chegou com a vestimenta da missa, uma mola de madeira de pendurar a roupa no estendal, unia-lhe, à volta da canela, a bainha das calças do lado da pedaleira e vinha resolvido a participar na corrida… cinco voltas: Cabina – Vale de Ílhavo acima – Moitinhos abaixo e Cabina novamente… à quinta passagem pela Cabina, seguia-se em direcção ao Cruzeiro onde se instalava a meta.

Eu lembro-me deste evento em particular, pois foi na altura em que andava a saborear a minha bicicleta nova, uma yé-yé, prenda de aniversário e de sucesso escolar e estive “vainovai” para entrar nessa corrida, estava doidinho para exibir a minha “máquina” topo de gama na época… mas não tive coragem de me misturar com aqueles latagões…

Iam aparecendo, os ciclistas, quase todos equipados, absolutamente nada ao rigor da actualidade, mas para a época, estamos nos anos sessenta – setenta, não era nada mau para o estilo: camisolas, com ou sem numero nas costas, calções, na maioria brancos, equipamentos de futebol e de ginástica da Mocidade Portuguesa… nos pés, sapatilhas, sandálias e até sapatos de verniz… e nas cabeças, alguns bivaques, chapéus variados, mas a maioria, como deve ser, vinha de boné, com a pala a tapar a nuca…

O Freitas, inscreveu-se, mas não se equipou a rigor, não vinha a contar entrar na “festa” e por isso iria correr de fato domingueiro, apenas reforçou com mais uma mola da roupa, o ajuste das bainhas das calças à canela da perna direita…

Os prémios estavam em exposição na pequena montra da tasca do Ti Piolho… tudo dado e oferecido pelos habitantes das redondezas: umas duas ou três chouriças, uma saca com figos, um garrafão de vinho, uma boroa doce, um folar com ovos… mas o chamariz era o primeiro e o segundo prémios: vinte e dez escudos, resultantes da colecta que se fez um mês antes pelos arredores…

A partida era dada aos berros: …três…dois… um… vai… e lá iam qual deles em melhor estilo… nos primeiros metros… uma ou duas quedas… três ou quatro saltamento da corrente… encravamentos na modernice das mudanças, quem as tinha… mas lá se aguentava tudo na primeira volta… na frente da corrida, o director, com outro atrás numa lambreta abriam alas… como vassoura, uma furgoneta de caixa aberta que algum “mestre d’obras” disponibilizava, mas que ía tão cheia de rapaziada, que numa eventualidade, não tinha espaço para recolher nenhum azarado…

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