Fotos: Cedidas pela família e pela Liberty Seguros

Passaram 32 anos desde o acidente nuclear em Chernobyl, mas ainda há jovens e adultos a contrair doenças, provocadas pelos elevados níveis de radiação a que estão sujeitos, todos os habitantes das zonas envolventes, como a aldeia ucraniana de Ivankiv, com 11 mil habitantes, a 50 km do reator nuclear, que explodiu a 26 de abril de 1986.

Em Portugal é a Liberty Seguros, em parceria com a Associação Cultural, Recreativa e de Solidariedade (ACLIS) quem está encarregue de promover o programa ‘Verão Azul’. Ao jornal ‘O Ilhavense’, Rogério Bicho, CEO da Liberty Seguros em Portugal explicou que “consiste em trazer para Portugal, para umas férias de verão, crianças oriundas do local onde ocorreu o maior acidente nuclear da história” e que, desde 2008 já abrangeu mais de 80 crianças. Este ano, dos 35 meninos e meninas, cinco chegam pela primeira vez. O distrito de Aveiro recebeu seis, das quais três estão a ser acolhidas por famílias, em Ílhavo. O objetivo é dar a estas crianças e jovens, entre os 8 e os 16 anos, um período de maior exposição solar, com forte contacto com o iodo das nossas praias, de modo a que reforcem os seus sistemas imunitários e permaneçam mais algum tempo longe das radiações, melhorando a sua qualidade de vida, potenciando as suas vidas até 2 anos, segundo estudos realizados.

Uma delas é Kateryna Melnychenko, 10 anos feitos em abril, três com casa em Vale de Ílhavo, onde tem um mês com a família que a acolhe. Aqui, já tem uma melhor amiga, Ariana Domanska, com quem partilha tudo, até a Alice e o Pedro:

“são a mãe e o pai de Portugal”, diz a menina, com lágrimas nos olhos e sorriso pequeno, quando começa a perder a timidez.

Com igual emoção, o casal confirma que “o sentimento passa a ser esse”, “damos por nós a passar o ano todo a ansiar pelas férias com ela”. “Não achamos que somos melhores ou piores do que as outras famílias, mas como não temos filhos, ela preenche esse lugar”.

Kateryna Melnychenko e a amiga Ariana Domanska

A ‘Salsicha’, como ele lhe chama, não perde um segundo em que possa estar enrolada nas cavalitas do P, de Pedro, em português, mas também de Pai, que é uma figura que a pequena não tem habitualmente durante o ano.  Vêem fotos das férias, relembram a primeira vez que Kateryna viu o mar e o quanto ela cresceu em três anos. Quando veio sentiu “muito medo”, mas não o suficiente para querer desistir. No 2º ano o medo já era outro: “que não pudesse voltar”. Agora “gosto de tudo”, mas o melhor é “dormir”, (risos), “Alice e Pedro” e a amizade com Ariana. Costumam dançar e cantar pela casa, ir à piscina e saltar no trampolim, que o casal comprou propositadamente para elas. Farta de frango “até aqui”, aponta a menina com a mão debaixo do queixo a sorrir, tem aceitado bem provar novos sabores e dá valor ao sacrifício de Alice, que é vegetariana, ao preparar porco, vaca, peixe, para que vá mais nutrida para a Ucrânia. Até já tem comida favorita: “salada” e “pão de vale de Ílhavo”, como boa Ilhavense em que se está a tornar.

O casal relembra que o que os moveu foi “a vontade de fazer alguma coisa por estes miúdos” e que é preciso “uma grande disponibilidade emocional, porque eles precisam e também a nível físico, porque eles vêm sedentos de fazer tudo o que não podem fazer lá”, mas o balanço não podia ser mais positivo:

“traz-nos muitas emoções que não temos quando não há uma criança em casa”, “para mim é excelente”, diz Pedro, emocionado.

Nem tudo nesta experiência é fácil, sobretudo no que diz respeito às saudades, “ela fica dividida”, dizem, além de que “a língua é uma barreira grande, mas depois de chamarmos a Ariana, correu tudo bem”. Ariana é a arma secreta desta ‘nova família’.

A viver em Portugal com os pais e o irmão, há sete anos, Ariana fala Ucraniano e Português. Tem lembranças dos três anos em que viveu lá e o contacto com a amiga, ajuda a manter os laços. Fazem planos para o futuro, imaginam-se amigas para sempre. Kateryna ainda não sabe o que quer ser profissionalmente, mas está com vontade de ser dentista, e diz que gostava de estudar em Portugal, a partir dos 16, quando o programa acabar. Alice e Pedro não hesitam:

“se ela quiser e a mãe deixar, nós teremos todo o gosto de a ter connosco para ela poder estudar, ter uma visão diferente da vida”.

Esta é já a 10ª edição do programa “Verão Azul”. Depois de terem lançado o livro “O Verão Azul dos afetos”, uma grande reportagem que permite dar a conhecer melhor esta realidade e fazer um retrato destas crianças, com as suas famílias, a data será assinalada com uma exposição itinerante: “O nosso Verão Azul das memórias”, “com histórias e fotografias das pessoas envolvidas neste projeto, que irá percorrer os Espaços Liberty Seguros de norte a sul do país, começando em Lisboa”, acrescenta a empresa.

As 35 crianças na chegada. (em cima) Alice Sardo, Kateryna e Pedro Vicoso

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