AFONSO RÉ LAU

Algumas dezenas de pessoas juntaram-se, no dia 25 de janeiro, para uma conversa sobre o Escutismo, moderada por Luís Miguel Loureiro, jornalista da RTP e antigo escuteiro na Gafanha da Nazaré. Luís recordou os seus anos de escuteiro como tendo sido “tempos fascinantes, de descoberta pessoal como homem e cidadão”, assumindo a influência positiva que o movimento teve no seu percurso. “O escutismo apareceu-me numa fase determinante e [o que aqui aprendi], ainda hoje, está profundamente relacionado com várias dimensões da minha vida”.

Luís Miguel Loureiro foi escuteiro na década de 1980 – a primeira da vida do agrupamento – “numa altura em que o Escutismo se afirmava na Gafanha da Nazaré e trazia muita gente para o agrupamento”.

Para o jornalista, “contar 40 anos de vida escutista na Gafanha da Nazaré obriga-nos a recuar ao que era a vida, há 40 anos, nesta terra”. Nesse sentido, a primeira intervenção foi de Fernando Martins, antigo professor do ensino básico e entusiasta pelos usos e costumes da comunidade da Gafanha, que fez uma resenha histórica da comunidade, desde o tempo dos primeiros lavradores até aos dias de hoje. Uma terra que, ao longo do tempo, tem estado “sempre em maré de desenvolvimento”. Afinal, diz Fernando Martins, “os gafanhões não nasceram para a quietude”. 

De certa forma, o próprio Escutismo na Gafanha da Nazaré é fruto desse desassossego. Os primeiros passos do movimento terão sido dados em meados dos anos de 1970 “pelas mãos do gafanhão Messias Gandarinho Lopes”. Fernando Martins recorda também o padre Miguel de Lencastre, à época, pároco da Gafanha da Nazaré, que “tinha a semente do Escutismo no corpo”, já que era filho de um dos fundadores do Escutismo católico em Portugal. Apesar da influência de Messias ter acabado por se desvanecer, “Lencastre, atento ao que se passava na sua paróquia, não deixou que a semente morresse” e apoiou a criação de um agrupamento de escuteiros.

A fundação viria, então, a acontecer a 29 de julho de 1979. Na véspera, dia 28, tinham feito a promessa – compromisso público para com os princípios e a missão do movimento escutista – os primeiros dirigentes: Carlos e Fernando Borges Ferreira, Orlando Leitão Figueiredo e o próprio padre Miguel de Lencastre. Rapidamente, e uma vez que estava a lançar as bases para a construção das igrejas da Cale da Vila, da Chave e da Praia da Barra, o padre Lencastre pediu a Fernando Martins que o representasse no novo agrupamento, assumindo o acompanhamento espiritual dos escuteiros.

Também Manuel Augusto Oliveira faz parte desta história. Foi na paróquia da Gafanha da Nazaré que, em 1994, se fez padre e no agrupamento 588 que se tornou dirigente. O sacerdote, que atualmente acumula as funções de pároco de Avanca e assistente regional do Corpo Nacional de Escutas (Região de Aveiro), relembrou alguns episódios dos anos passados na Gafanha da Nazaré, apelando aos atuais membros do agrupamento para a importância de estarem “alerta ao próximo”, “viverem o sentido de comunidade” e “valorizarem as relações” uns com os outros.

Este “envolvimento na comunidade” é uma das principais bandeiras do movimento escutista, presente em mais de 200 países e territórios e constituído por mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo. Os números são avançados por João Armando Gonçalves, antigo presidente do comité mundial do Escutismo, que se juntou a esta tertúlia para dar testemunho da sua experiência internacional. João Armando entende os escuteiros de todo o planeta como “uma grande família”, no entanto, para o dirigente escutista e professor universitário, a vivência do Escutismo só faz sentido quando está intimamente ligada à comunidade onde está inserido. “O Escutismo que se pratica no Uganda ou na Indonésia tem pontos essenciais em comum, mas é obrigatoriamente diferente daquele que se vive aqui na Gafanha”, explica. É por ser capaz de se moldar à identidade de uma comunidade sem perder a noção global, que o Escutismo consegue “incentivar os jovens a criar vínculos, a desenvolver sentimento de pertença e a importarem-se com o seu território”.

Antes de terminar a sessão, Luís Leitão, diretor comercial de uma multinacional com expressão no município, partilhou algumas memórias dos seus tempos de escuteiro na Gafanha da Nazaré, referindo a “gente inteligente e irreverente que foi capaz de acolher os jovens mais rebeldes” da sua época. Dada a sua profissão, Leitão fez questão de deixar outra nota: “Quando tenho de contratar pessoas e estou a analisar currículos, vejo sempre onde é que [os candidatos] andavam aos 16 anos. Um dia, um colega espanhol estranhou este hábito e eu expliquei-lhe que queria saber se os candidatos tinham sido escuteiros”. Para Leitão, “a vivência escutista é indício de capacidade de trabalhar em equipa, respeito pelos outros, liderança e, quase sempre, de gente boa”.

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