Aprende a nadar companheiro que a maré se vai levantar e a liberdade está a passar por aqui é uma frase que compreendi só agora. Não é fácil viver em liberdade, não nunca será fácil e nem deve sê-lo. Vai ser sempre preciso aprender a nadar!

Porém, as democracias, estas que nos foram oferecidas de bandeja (social democracia ou socialismo democrático), tudo fizeram para que pensássemos que viver em liberdade é fácil, transformando em programas eleitorais, as mensagens das revoluções, como esta que o Sérgio cantava: paz num tempo de guerra colonial; pão num tempo de fome que só alguns recordam; habitação quando cresciam os bairros de lata com gentes rurais; saúde quando mais de 70% das crianças morriam ao nascer e as epidemias devoravam famílias inteiras; e educação quando ler e escrever era para o padre e para o professor.

Hoje, de facto, parece que viver em liberdade é fácil. Mas será?

Parece que há paz entre nós, enquanto se mantém os conflitos armados na Síria, na Ucrânia, no Iémen, na Etiópia, no Burkina Faso, na Líbia, no Golfo Pérsio, na Coreia do Norte, em Caxemira, na Venezuela, e estes só para referir a mainstream e deixando de lado os pequenos conflitos da África ou das favelas no Brasil.

Parece que há pão entre nós, enquanto nos é dito pelas Nações Unidas que, em 2016 (só há 4 anos atrás), cerca de 11% da população mundial – 815 milhões de pessoas (mais que as populações europeia e americana juntas) – vivia em subnutrição crónica, das quais 11 milhões (+/- a população de Portugal) estava localizada em países desenvolvidos, como os nossos.

Parece que há habitação entre nós, enquanto, em 2017, cerca de 850 milhões de pessoas viviam em habitações ilegais e sem condições mínimas de habitabilidade, e as rendas de cidades como o Rio de Janeiro ou Caracas podiam exceder o rendimento mensal médio até níveis que iam desde os 300% aos 3000%, respetivamente (Bloomberg Global City Housing Affordability Index).

Parece que há saúde entre nós, mas, contabilizando só os primeiros 3 meses de 2020, em regiões ditas desenvolvidas como a China, os EUA e a Europa, os Governos foram obrigados a mandar as pessoas para casa, a parar a sociedade e a economia, tudo por causa de um vírus, muito semelhante ao da gripe, para o qual, pelos vistos, ninguém tinha uma solução de contenção adequada à nossa belle vie hipermoderna, onde já se pensava fazer turismo espacial. Consequência prevista: a maior recessão económica e social desde que há memória e a previsão de dias muito maus, como disse a minha avó, lembrando do que foi o tempo dela.

Parece que há educação entre nós, mas, ainda hoje, cerca de 72 milhões de crianças em idade escolar não têm acesso à escolarização básica (ler, escrever, contar) e 760 milhões de pessoas adultas são analfabetas e nem sequer têm consciência da importância real que a educação (escolar) pode ter nas suas vidas, nomeadamente na mobilidade social. Além disto, as principais razões para a não escolarização das populações são as desigualdades geradas pelo sexo, etnia, língua, religião e saúde (Humanium.org).

É-me dito, frequentemente, que as minhas crónicas não têm conclusão. Não têm que ter, não quero que tenham. A conclusão deixo-a para si, meu leitor e minha leitora. Eu ainda não consigo concluir nada.

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