A retoma das eucaristias e outras celebrações comunitárias deverá iniciar-se a 30 maio, véspera da Solenidade do Pentecostes. A data depende ainda de uma avaliação que o Governo e as autoridades de saúde se propõem fazer a propósito desta primeira etapa do desconfinamento. Nos últimos dias, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgou um documento com orientações para a retoma das celebrações que os padres estão a ter em conta para organizarem o regresso às igrejas.
Será “obrigatória a higienização das mãos à entrada da igreja, bem como o uso de máscara, a qual só deverá ser retirada no momento da comunhão”; excluindo “pessoas que vivam na mesma casa”, deverá ser respeitada uma “distância mínima de segurança entre os participantes nas celebrações de modo a que cada um disponha, só para si, de um espaço de 4 m2”.
O padre Ângelo Silva, das paróquias da Costa Nova e da Praia da Barra já fez as contas: “na Costa Nova, conseguimos ter 50 pessoas na igreja a dois metros umas das outras; na Barra, 60 pessoas”. O retomar das celebrações vai, contudo, obrigar a uma reorganização dos espaços. “Cada banco poderá levar duas pessoas e cada pessoa terá a sua entrada e saída do banco. Para que isso seja possível, vamos ter de afastar das paredes os bancos que a elas estão encostados. Substituir alguns bancos por cadeiras individuais também é uma possibilidade”.
Na igreja da Gafanha da Nazaré, a lotação máxima deve andar “por volta das 80 pessoas”, estima o padre César Fernandes, pároco da Gafanha da Nazaré que já agendou uma reunião com uma comissão alargada para discutir todos os pormenores do regresso das eucaristias. Um dos objetivos deste encontro, adianta o presbítero, é “conseguir arranjar um elemento de cada lugar para constituir equipas de acolhimento que se encarreguem de, em cada igreja da paróquia, orientar a entrada e o acomodamento das pessoas”. Também no seguimento das indicações da CEP, haverá distinção entre portas de entrada e portas de saída das igrejas e “percursos sinalizados de sentido único para evitar que as pessoas se cruzem”.
Se há quem anteveja uma maior procura pelas celebrações nesta primeira fase de desconfinamento, os padres esperam uma retoma gradual. Por um lado, porque “naturalmente, as pessoas mais vulneráveis devem ser aconselhadas a não ir à missa, por muito que sejam as que têm mais vontade de ir”; por outro,“muita gente vai ter receio de abandonar já o confinamento e vai preferir ficar por casa”, acredita Ângelo Silva. Porém, confirmando-se uma maior procura, há que arranjar alternativas. “Na minha realidade [Costa Nova e Barra], acho que não vou precisar, mas, se for preciso, os padres podem abrir inscrições para ir à missa. E se uma missa não chegar, fazem-se duas. E se não houver possibilidade de fazer duas ou mais missas, os cristãos que se inscrevem para missa de um domingo, devem dar lugar a outros na inscrição para o domingo seguinte. É uma questão de gestão de recursos. É preferível que as pessoas possam ir à missa uma vez por mês e nos outros fins de semana celebrar em casa com a família do que não ir nunca”, diz o padre Ângelo.
Ainda tendo em conta as diretrizes nacionais, “não haverá folhas de cânticos, nem gesto da paz, nem comunhão na boca”. Para a comunhão, prevê-se que, como habitualmente, se faça fila para o altar, com distância de 2 metros entre fiéis, mas Ângelo Silva diz que, provavelmente, vai adotar uma fórmula de “ser o padre a ir levar a comunhão ao lugar”. É, segundo o sacerdote, uma forma de evitar qualquer “tensão desproporcional ao sentido da celebração”. O ofertório realizar-se-á à saída. No que diz respeito às confissões, a CEP avisa que devem acontecer “num espaço amplo que permita manter o distanciamento entre o confessor e o penitente, protegendo sempre o inviolável segredo da confissão”. Catequese e formações só pela internet.
Um ano sem procissões, festas e romarias
No mesmo documento orientador, informa-se que “procissões, festas, concentrações religiosas, acampamentos e outras atividades similares, ficarão adiadas para o próximo ano pastoral”. Uma “nomenclatura equívoca”, reconhece o padre Ângelo. “O ano pastoral não corresponde ao mesmo [período] em todo o lado, varia de diocese para diocese e, por vezes, até dentro da mesma diocese; ora corresponde ao ano letivo (tendo início em meados de setembro), ora corresponde ao ano litúrgico (que arranca no primeiro domingo do advento, isto é, no último domingo de novembro ou no primeiro de dezembro)”. A festa em honra de Nossa Senhor da Saúde, na Costa Nova, realiza-se no último fim de semana de setembro, data que, no entendimento de alguns, pode corresponder a um novo ano pastoral. Ainda assim, “tudo indica que não haverá procissão”, diz Ângelo e que a festa possível será muito diferente dos moldes habituais. O pároco afirma mesmo que, na sua opinião, “o mais ponderado era que todas as procissões, festas e romarias fossem canceladas”.
O mesmo acontecerá na Gafanha da Nazaré onde já é certo que a festa de Nossa Senhora da Nazaré não vai realizar-se este ano. Quanto à “procissão” pela ria em honra da Senhora dos Navegantes, a responsabilidade da sua organização é do Grupo Etnográfico, mas o padre César acredita que, no seguimento de todas as recomendações, não se vai realizar.
Em Ílhavo, as procissões da Senhora do Pranto e do Senhor Jesus dos Navegantes estão, à partida, canceladas. No entanto, o padre António Cruz não põe de parte a realização de manifestações religiosas pelas ruas que possam mesmo incluir o transporte das imagens dos santos numa carrinha, desde que não haja ajuntamento de pessoas e esteja assegurado o aval da Câmara Municipal e da GNR.