Quando era puto, sempre fui um medricas do caraças mas, nem por isso, deixei de ser reguila e a minha avó, a cada instante, gritava-me “está quedo Joãozito”. Depois do pátio, logo à entrada para o quintal, ficava o poço, a que estava acoplada uma bomba manual que tirava água para o consumo doméstico e com a qual também se regavam as “novidades” que enxameavam as leiras de horta que a Ti Maria do Jorge ou a Ti Maria Calceteira, a rogo da minha avó haviam preparado a troco de alguns tostões para reforço dos seus parcos rendimentos.
Nunca brinquei no tanque, como tanto ansiava, com qualquer arremedo de barco, improvisado na casca de qualquer acha de pinheiro que a minha avó consumia ao aquecer o forno em que cozia as padas tão saborosas e estaladiças. E o porquê da contrariedade de não poder brincar no tanque assentava no facto de dentro do poço estar o “Zé do Telhado”, assim o garantia a mãe da minha mãe, contando-me as horrorosas atrocidades que o tal “Zé do Telhado”, com morada no poço, cometia se apanhasse alguma criança. E o medricas, com receio que o facínora aparecesse a qualquer momento saindo do poço através da frágil cobertura de madeira que sobre si tinha, ao encaminhar-se para o quintal, era sempre em grande correria que ultrapassava aquele espaço, virando-se sempre para trás para se certificar que o mafarrico não o perseguia.
Os anos passaram e o Zé do Telhado continuou sempre mudo e quedo e então, já crescidote, fui à procura dele. E querem saber quem era o Zé do Telhado? Então aí vai:
José do Telhado ou Zé do Telhado, alcunha de José Teixeira da Silva, nasceu no lugar de Telhado, Castelões de Recesinhos, Penafiel, em 22 de junho de 1818 e morreu em1875 aos 57 anos. Foi um militar e famoso salteador português. Chefe da quadrilha mais famosa do Marão, Zé do Telhado é também conhecido por “roubar aos ricos para dar aos pobres” e, por isso, muitos o consideram o Robim dos Bosques português.
O objetivo da minha avó foi alcançado e isso é que importa realçar, pois foi através da intimidação que engendrou que evitou que eu me debruçasse ou espreitasse para o poço.

Por João Fernando

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