Depois do tão badalado “novo normal” imposto pelas restrições devido à pandemia, eis que ressurge o verdadeiro normal a que estávamos habituados em democracia e de que tanto gostamos – a liberdade de reunião e movimentação, sem máscaras e sem distanciamento social.
O vírus não foi totalmente embora, é certo, mas a vida, dê por onde der, tem de continuar – e se for com música, ainda melhor!
Três anos depois do último Vagos Metal Fest, a vila vizinha do nosso município volta a receber, no final deste mês, um dos maiores eventos da música pesada do país. E se os festivaleiros que por lá passam já esperavam ansiosamente por isto ao longo de apenas um ano, então o que dizer de três? O heavy metal está de volta!
A acontecer desde 2009, primeiro num campo de futebol em Calvão e depois no centro de Vagos, mais concretamente na Quinta do Ega, o festival recebe cerca de 20 mil pessoas e gera um retorno financeiro de perto de um milhão de euros. Porém, ainda que Vagos seja o lugar nuclear desta comunhão, a região circundante, como Ílhavo e Aveiro, ganha também com as pessoas, principalmente casais, que por cá ficam mais uns dias para uns banhos na Costa Nova ou na Barra, ou para umas degustações gastronómicas, de peixe e marisco, que só nós, à beira-ria, sabemos proporcionar.
Mas mais importante do que aspetos turísticos ou financeiros firmados em folhas de cálculo, é a música e todos os envolvidos – as bandas, as promotoras que as trazem e as pessoas que as ouvem.
A região de Aveiro sempre foi, por entre altos e baixos, propícia ao rock, ao metal e ao punk desde pelo menos finais da década de 1980, havendo agenda para acontecimentos de música extrema ao longo dos anos em Ílhavo, nomeadamente na sede da A.C.D. “Os Ílhavos”, Quinta do Picado e Vagos, vila esta que aprendeu rapidamente a receber de braços abertos milhares de metaleiras e metaleiros com os seus cabelos compridos, roupa negra e botas até ao joelho.
A razão dessa hospitalidade é simples: o visual pode ser agressivo e até causar incerteza nos menos conhecedores, mas o espírito é bem-humorado, respeitoso e antagónico a desacatos, porque a palavra principal dentro do heavy metal é irmandade. E diga-se até que, neste movimento, que já tem mais de 50 anos a nível mundial, não pode haver lugar para desigualdade e intolerância.
Não é a roupa, a cor de pele ou a orientação sexual que nos define – é, sim, a atitude, e festivais como este ajudam a tornar-nos mais humanos, não só porque nos podemos voltar a reunir mas porque também há um desejo para se mitigar diferenças.
Pertencendo ou não a esta comunidade gigante e transgeracional, estão todas e todos convidados a vir viver uma experiência única que só os metaleiros são capazes de oferecer. O nosso segredo está no coração… e na cerveja!
(Texto de Diogo Ferreira, publicado no “O Ilhavense”, nº 1305, de 15 de julho de 2022)