Nuno Costa, em entrevista a O Ilhavense, afirma que o Museu Marítimo é muito acarinhado pela sua comunidade “é uma referência na região e com grande reconhecimento a nível nacional”.
Nuno Miguel Costa é o responsável pelo projeto expositivo do Museu Marítimo de Ílhavo (MMI).
Natural de Ílhavo, licenciado em Antropologia e mestre em Museologia, com tese sobre as questões de género numa comunidade bacalhoeira, trabalhou na implementação do Museu da Boneca da Câmara Municipal de Alcanena e foi estagiário de Museologia da Direção Regional da Cultura do Centro. Em Ílhavo, Começou por integrar a equipa de investigação do CIEMar, sendo hoje o Coordenador da Direção do Museu Marítimo.
A O Ilhavense falou sobre o Seminário “Desafios do Mar Português”, que aconteceu no MMI e refere programação futura.

Voltou ao Museu o seminário “Desafios do Mar Português”. Segundo a opinião de quem assistiu, com muito sucesso. Qual a sua opinião?

Esta edição foi já a décima deste seminário, que tem vindo a marcar a agenda anual do museu desde a abertura do CIEMar-Ílhavo e que tem fortalecido a sua posição como impulsionador do debate sobre as problemáticas em torno da relação de Portugal com o Mar. A edição deste ano teve como tema “Do Mar às Artes” e foi dedicado às artes e à sua inspiração marítima e o programa, que nos pareceu riquíssimo, trouxe-nos conhecimento de especialistas de vários quadrantes e a sua interpretação de como o mar inspirou movimentos, expressões e artistas. O programa foi pensado para assinalar o centenário de Cândido Teles, em 2021, que acabou por não se realizar. No entanto, como a temática, os oradores e os parceiros eram de elevadíssima qualidade, mantivemos o programa neste ano.
O seminário teve como parceiros a Direção Regional de Cultura do Centro, o CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» da Universidade do Porto e o Instituto de História de Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e só podemos ficar satisfeitos com o que ouvimos e com a multidisciplinaridade que foi apresentada ao longo do dia: azulejaria; arte contemporânea; música, literatura, cinema, ilustração e performance, toda com um tronco comum, a inspiração marítima.
A qualidade das intervenções foi superlativa, como seria de esperar de grandes especialistas nas suas áreas, como por exemplo a Professora Raquel Henriques da Silva ou o Maestro Vassalo Lourenço, e trouxeram conhecimento, inquietação e inspiração a toda a plateia.

O Dia Nacional do Mar, costuma ter relevância em Ílhavo. Como vai o MMI viver esta data?

Aproxima-se o Dia Nacional do Mar que o Museu Marítimo de Ílhavo assinala, no dia 19 de novembro, com o lançamento da 10ª edição da revista ARGOS, com o tema “Ártico e Atlântico Norte: Território, Cultura e Sustentabilidade”. A pertinência da temática deste número surge com o trabalho desenvolvido para a exposição “O Grande Norte” a necessidade de se aprofundar conhecimento sobre as comunidades circumpolares, o potencial económico das suas águas e a problemática premente das alterações climáticas. Também neste dia apresentaremos o livro “Arte, Museus e Memória – A imagem marítima da Nazaré” da autoria de Dóris Santos, uma tese de doutoramento premiada em 2021 pelo museu marítimo como vencedora da 5ª edição do “Prémio de Estudos em Cultura do Mar Octávio Lixa Filgueiras”. Em simultâneo com o Dia Nacional do Mar decorre o Mar Film Festival. Os dois eventos cruzam-se através da “Secção especial: Centenário António Campos”. Antes da exibição das duas obras inseridas na seção e que abordam as comunidades do litoral central português dá-se a inauguração da nova exposição temporária “Memórias da Arte Xávega”, de António Marques Leitão.
Também no auditório do Museu Marítimo de Ílhavo nos fins de semanas de 12 e 13, 19 e 20 e 26 e 27 de novembro, acontecerá o Mar Film Festival, que volta a exibir curtas, médias e longas-metragens de ficção, animação e documentários, de inspiração marítima e que exibirá e enaltecerá a produção cinematográfica nacional, que mesmo durante os tempos de pandemia não parou de produzir e criar. Não faltam bons motivos para visitar e revisitar o Museu Marítimo de Ílhavo.

O MMI, ao contrário do que acontece com outros museus, mesmo a nível nacional, é muito visitado. Na sua opinião como é que a população de Ílhavo se relaciona com o seu museu?

O museu é muito acarinhado pela sua comunidade e desde a remodelação e ampliação de 2001, com o assumir da temática marítima como vocação e a memória da pesca do bacalhau como identidade o museu ganha uma dimensão nacional, porque todas as comunidades do litoral português que deram homens para a pesca do bacalhau, desde Vila Praia de Âncora até à Fuzeta passaram a sentir o museu também como seu. A reabertura do renovado Navio Museu Santo André e a inauguração do Centro de Religiosidade Marítima trouxeram complementaridade ao discurso do museu e oferta diversificada aos visitantes, que nos anos pré-pandemia duplicavam o número de habitantes do concelho. O Museu Marítimo de Ílhavo é sem dúvida uma das marcas do município, uma referência na região e com grande reconhecimento a nível nacional.

Publicado no jornal O Ilhavense de N.º1313 de 15 de novembro de 2022