AFONSO RÉ LAU

Quando a cidade volta as costas à ria e ao mar, bifurca-se numa extravagante Avenida Mário Sacramento, de um lado; e uma tímida Rua João Carlos Gomes, do outro.

O caminhante, sem bússola nem mapa que o guie, segue pela tímida, apenas por ser mais convidativa à lentidão do passo; e não se arrependerá.

Ganha alento a decisão, quando descansa em frente ao 170 e 172, e respira fundo aqueles azulejos. Uma tal Vila Senos 1931, que dá as boas vindas e anima a continuar.

Segue convicto, mas depara-se com uma Rua Cap. Adolfo Simões Paião. A curiosidade pela Rua não vence a ignorância sobre o nome: Rua Cap. Adolfo Simões Paião.

Vai em frente, decidido a esquecer o embaraço, e, por sorte ou atenção, a tímida Rua facilita a tarefa, apenas com 45 cm por 90 cm de azulejos, e um S. José e menino Jesus ao colo.

Espanta-se com pouco é um facto, mas o caminhante precisa distrair-se para manter o ritmo do vislumbre, e não ser derrotado por qualquer desconhecido.

Com esta determinação, cumprimenta o Beco dos Manicas, fazendo injúrias com o pensamento; o Beco do Félix, acenando com a cabeça; o Beco das Avós, com o respeitoso vossemecê; e o Beco da Cininha, com um olhar simpático.

A sorte dura pouco e já se encontra num cruzamento de Ruas: uma global Rua da Venezuela e uma eclesiástica Rua D. Júlio Tavares Rebimbas Prior de Ílhavo de 1949 a 1965. Pensava o caminhante que tinha ultrapassado o pior.

Disfarça o desconhecimento, e aceita a bênção da Rua eclesiástica, despedindo-se com uma vénia. À Rua global, promete: para a próxima, quem sabe?!

Pouco anda este caminhante, pois para em tudo o quanto é sítio.

Como se fosse da casa, deixa-se estar um pouco entre o Beco do Mónica e o Beco do Pinto, para fotografar o velho a assar sardinhas, mas só leva o cheiro.

Depois deste episódio, caminha como uma criança castigada, e os padrões de azulejos no casario recordam-lhe o silêncio de um corredor de museu.

Pela primeira vez, pergunta: onde vai dar a Rua? Como quem acha que está a terminar, acelera o passo para chegar.

Ainda faltou passar por uma disponível Avenida da Saudade, que será a última estrada do caminhante, para chegar onde tinha de chegar: o fim da tímida Rua João Carlos Gomes.

Percebe que pode parar, e senta-se numa praça formada pela conhecida Rua João Carlos Gomes; a Travessa dos Bombeiros Voluntários; Rua Serpa Pinto; Rua de “O Ilhavense”; o Beco de São Salvador; e pela pequena Avenida Manuel da Maia.

Quando cai em si e com o toque do sino, toma consciência que, se está no Centro, para trás, ficou tudo por conhecer.

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