Illiabum cresceu.
Se cada rua tem um nome, cada beco tem uma história. Cada viela um suspiro e cada pedra da calçada continua a ressoar o som de passos.
E as paredes das velhas casas continuam a guardar os segredos de quem nelas habitou, preservando o mesmo secretismo de quem ainda se resguarda na sua segurança.
O vento transporta ao seu ritmo lamúrias, risos, os sons do mar, os cheiros da terra. Porém, não são os locais que fazem as pessoas, mas estas que os transformam, os fazem crescer, os engrandecem com a sua presença, a sua existência.
É a cidade desde sempre conhecida pela indústria de porcelana da Vista Alegre, pelo farol da Barra, pelas casas da Costa Nova, profundamente ligada à pesca do bacalhau, gastronomia, doçaria, pelas pasteleiras que continuam a rivalizar com a constante movimentação de carros.
Invoco ainda os seus ilustres – aos quais tenho o privilégio de chamar família – João Carlos Celestino Gomes, D. José António Pereira Bilhano, arcebispo de Évora, Dr. Manuel Celestino Emídio, magistrado, o mesmo que desterrou João Brandão para a costa de África. Transborda de mim um imenso orgulho nas minhas raízes Gomes e Barreto, ambas com forte ligação a esta cidade, o que inevitavelmente despertou em mim esta sede de descoberta.
Não estou satisfeita com o pouco que aparentemente sei sobre quem sou. Quero mais, muito mais, desta minha demanda pessoal aos confins do meu tesouro familiar. Pretendo desvendar alguns dos segredos que sinto estarem guardados e possivelmente perdidos no tempo, no fundo do baú das memórias de quem já não está presente, com a consciência de que com o conhecimento vem a responsabilidade e, consequentemente, nunca falarei do que sei não poder ser dito.
Foi assim com enorme satisfação que, na minha última viagem a Ílhavo, descobri família da qual não tinha conhecimento. Dizem que as coisas acontecem numa determinada altura das nossas vidas porque estava destinado que assim fosse. Fico feliz que me tenha acontecido.
Na realidade, sou teimosa. Possivelmente com laivos de casmurrice. Possivelmente mais uma característica familiar.
Gosto de pensar que não somos perfeitos, mas que aprendemos com as nossas imperfeições.
Que erramos, mas aprendemos com os nossos erros.
Que caímos, mas aprendemos a levantar-nos de cabeça erguida.
Que fraquejamos, mas na nossa fraqueza respeitamos.
Que é possível amar intensamente.
Descobri que as fraquezas têm as suas consequências e que todos sucumbimos aos sete pecados mortais, porque fazem parte da nossa existência, das nossas perfeitas imperfeições.
Todos guardamos os nossos segredos.
A verdade nem sempre nos é contada na sua plenitude, mas em vez disso é embelezada, deixando de lado o que realmente importa.
Gosto de acreditar que para todo o mal que tenha sido infligido, existe uma hipótese de redenção. E que com o seu reconhecimento chegue o perdão.
Quero acreditar que nada se perde no tempo e que certas histórias podem – e devem – ser compensadas, ainda que cheguem tarde para alguns, para quem foi obrigado a viver nas sombras.