Maria José Santana (Diretora d'O Ilhavense)

Quem diria que em pouco mais de um mês haveríamos de estar a chorar a morte de mais um elemento fulcral da história recente deste jornal? Ainda em luto pela partida do antigo diretor, Torrão Sacramento, somos abalados com a triste notícia do falecimento da jornalista Maria do Céu Lopes, que tantos anos dedicou a esta casa (ver Obituário).

Permitam-me falar dela sem essa distância de quem fala apenas da “jornalista”. A Maria do Céu foi, para mim, muito mais do que isso. Foi ela que me ensinou a fazer rádio e me introduziu no jornalismo (aos microfones da Rádio Terra Nova). Ajudou-me a crescer, profissional e pessoalmente – cheguei ao mundo da comunicação com apenas 17 anos.

Voltámos a cruzar-nos na extinta Aveiro FM. E não foi por mero acaso. Quando a administração do grupo a que pertence o Diário de Aveiro me desafiou a criar um departamento de informação na rádio que a empresa detinha em Aveiro, senti que tinha de ter a Maria do Céu comigo. Felizmente, tive. E por muitos anos. Muitos debates, muitos diretos e mil e uma entrevistas.

Sonhámos ter um programa de rádio em conjunto. Iríamos chamar-lhe “Santana e Lopes”. Não sei muito bem porquê, nunca passámos da ideia à prática. Mas fizemos muita coisa bonita em conjunto. Em “on” e também em “off”. Verdade seja dita, o que construímos com os microfones desligados foi único: uma bela e longa amizade.

A Maria do Céu era uma mulher decidida, de gargalhada fácil e, tal como escreveu o nosso colega Carlos Teixeira, “uma mulher da beira mar, de língua solta”. Sim. Era frontal e não deixava nada por dizer. Mas essa também é uma qualidade dos grandes – só os néscios são dados a escudar-se na hipocrisia e na mentira.

Coisas do destino, ou não, foi também ela que me levou a começar a escrever as primeiras linhas e textos para O Ilhavense. Já lá vão mais de 10 anos e estaríamos longe de imaginar que, um dia, eu assumiria estas funções. E quando esse dia chegou, ela esteve aqui. Quase ninguém terá consciência disso – e também não tinha de o ter -, mas aquela tarde, noite e madrugada de fecho da primeira edição d’O Ilhavense após a suspensão da sua publicação foi uma prova de resistência. Jamais esquecerei que a Maria do Céu esteve aqui, comigo e com o António Pedro, numa noite fria e alimentados por um folhado misto e um lanche (a dividir por três).

Sei que tive a oportunidade de agradecer à Maria do Céu Lopes por isso e por muito mais, mas hoje faço-o em nome de todos vós, leitores deste jornal pelo qual ela tanto lutou. E hoje, como há um mês, aquando do falecimento de Torrão Sacramento, volto a dizer: a melhor forma de homenagearmos quem tanto fez pel’O Ilhavense é resistir à tempestade e levar o barco a bom porto. Continuar a lutar pela manutenção e sobrevivência deste título, para bem de todos nós, ilhavenses. Com a missão e o foco de sempre: Por Ílhavo.

Obrigada, Maria do Céu. O aviso luminoso “No Ar” desligou-se, mas a tua voz e os teus escritos continuam bem presentes.

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